Joaquim Balduíno de Souza, o “Cassinha”
Joaquim Balduíno de Souza, o Cassinha, nasceu em 14 de maio de 1895, em Patrocínio, interior do Estado de Minas Gerais, filho de lavradores.
Como a família era humilde, logo cedo passou a trabalhar para ajudá-la no sustento da casa, de acordo com depoimento de familiares. E isso logo aos oito anos de idade.
De acordo com um historiador, Cassinha gostava de andar descalço, mania que ele tinha desde a tenra idade.
Uma fonte mineira dá conta de que Cassinha, aos dez anos de idade, ajudava o pai em seu engenho de cana, na fabricação de açúcar, rapadura, melado e outras guloseimas rústicas.
Aos 15 anos, segundo essa fonte, Cassinha foi vitimado por uma doença muito grave, que seria difteria ou malária, e só não morreu devido a socorros urgentes num período em que a saúde pública era muito precária.
Alguns anos depois Cassinha resolveu trocar Patrocínio pelo cerrado mato-grossense, na companhia de sua esposa Maria Francisca de Jesus, que lhe deu os três primeiros filhos.
A viagem foi dura e demorada. Ele ensacou os utensílios de uso pessoal e domésticos, trelando-os numa égua baia, arreou um cavalo e uma outra égua roxa, segundo narrativa de um familiar. Assim deixou sua terra natal por uma estradinha estreita e rudimentar em viagem rumo ao velho Mato Grosso.
Conheça melhor a História de Cassinha, o nosso fundador
Há fonte ouvida que garantiu ter Cassinha e a família viajado sobre carros de bois, enquanto outros diziam que a peleja foi a pé.
Após dias e dias de viagem, Cassinha chegou à fazenda de Isaias Bito, cognome de Isaias de Teixeira Borges, o marido de Dona Tonica. Penalizado, Isaias Bito deu à família de Cassinha amparo e agregação.
O mineiro desbravador construiu de início um açude, cercas, pequenas obras rústicas de grande utilização para seu Isaias Bito, além dos trabalhos roceiros convencionais, fato este que veio provocar grande admiração por parte do patrão. O mineiro perambulante de então se tornou o homem de confiança de Isaias Bito.
– Havia nele qualquer coisa de diferente. De estranho… e eu não sei o que era, não. De um pedaço de pau bruto ele construía uma ferramenta ou qualquer coisa de utilidade. E olha que era analfabeto de tudo! – diz seu Tiuca, apelido de Sebastião da Silva Borges, com o pensamento voltado para décadas passadas.
O nosso fundador trabalhou duro no primeiro ano. O senhor Isaias Bito custeou-lhe de tudo. O serviço era lavoura. Mineiro dos bons, “Cassinha” pegou pesado no serviço e no final da colheita conseguiu quitar suas dívidas junto ao fazendeiro. Quando saiu de suas terras não foi à-toa, mesmo porque já estava conseguindo o seu lote de terra no tal Sertão dos Garcia, que, por sinal, era a área que compreende hoje o território da cidade de Cassilândia.
Naquela época dezenas de homens de homens que não possuam terras nem tantos bens materiais estavam se movimentando para adquirir um pedaço por mais pequeno que fosse. E “Cassinha”, vendo-se na possibilidade de se tornar também um proprietário, não pensou duas vezes e encarou a parada. O mesmo acontecia com o senhor Manoel da Silva Castro, conhecido por todos pelo apelido de “Velho Moleque”. Ele nos lembra que o procurador do senhor Antônio Paulino requereu um pedaço de terra para todos que estavam interessados em adquiri-la. Lembra seu “Moleque” que o senhor Isais Bito e o seu Isaias Cândido, após o reconhecimento da carta adjudicatória, enviada pelo Estado, aproximadamente no ano de 1935, encarregou-se de escriturá-la em Paranaíba. “Cassinha” requereu 50 alqueires goianos.
Nestas terras em que pisamos ele construiu uma casa, cujas paredes foram feitas de madeira lapidada a machado e coberta por capim do brejo, extraído da redondeza. O mineiro “Cassinha” começou a derrubar a mata densa ao redor de sua casa. Assim também o fizeram os demais pioneiros, iniciando assim a colonização da chamada Vila São José.
Sem implementos agrícolas ou maquinários, o fundador e os intrépidos pioneiros passaram a lidar com suas lavouras na base do braço e de poucas ferramentas, escoando depois a produção em carros de madeira, fabricados rusticamente, afinal estradas praticamente não existiam, uma viagem a Paranaíba era muito trabalhosa devido à falta de uma boa estrada.
Outros montaram pequenos estabelecimentos comerciais como armazéns, empórios e farmácias, sempre na base de grande sacrifício e muita economia, afinal os clientes eram muito poucos, dezenas – ou centenas, se tanto.
O senhor João dos Santos Leal lembra que “Cassinha” havia fabricado um pequeno carro de madeira que era puxado por dois cães de raça misturada.
– O macho chamava-se “Motor” e a fêmea ganhou a alcunha de “Baleia” – conta João Leal, irmão do saudoso Sebastião Leal, que assumiu depois o loteamento de terrenos, continuando, assim, o pequeno povoado.
João Leal lembra que no ano seguinte o fundador conseguiu dois carneiros para puxar o pequeno carro de madeira.
Alguns mais piadistas lembram que “Cassinha” havia atrelado o carro a dois cães na sua parte traseira porque os carneiros tinham medo deles e corriam em alta velocidade máxima para não serem alcançados pelos dentes afiados dos caninos. A história desse carrinho de madeira repercute na memória dos últimos contemporâneos do fundador cassilandense.
A brilhante ideia
Corria o ano de 1926. “Cassinha”, a princípio, viera única e exclusivamente com o objetivo de estabilizar-se por aqui ou algum lugar qualquer. Se não estava ainda rico, pelo menos havia melhorado de vida, chegando, inclusive, até a aumentar a família. Em terras do velho Mato Grosso nasceram outros quatro filhos, totalizando sete: Cândida, Anésia, Ornatino, Sebastião, Odélio, Odílio e José Balduíno de Souza, que ganhou o apelido de “Zé Cassinha”.
O arrimo da família resolveu um dia montar um engenho movido por força animal, produzindo rapaduras, melados, doces e, claro, açúcar, além de lidar com engorda de porcos, vendendo o que podia no comércio de Cassilândia e também em Paranaíba e Três Lagoas.
Já morando numa casa mais confortável às margens do Rio Aporé, “Cassinha” passou a lidar com uma balsa de madeira que era usada para fazer o transporte de pessoas até o Estado de Goiás.
Ele era um homem com ideias progressistas para a sua época e um dia resolveu promover uma reunião na residência do ex-patrão Isaias Bito, sua esposa Tonica e o libanês Amin José.
O fundador apresentou a ideia de se erguer um povoado nas terras de seu Isaias Bito, mas dona Tonica foi contra, o que fez com que o assunto terminasse ali.
Em outras oportunidades, “Cassinha” voltou a tocar no assunto do povoado, mas sempre havia alguém para ser contra, por achar que não havia moradores suficientes para se erguer ali um povoado ou uma cidade.
Ele era um homem progressista, mas era visto como um desvairado, que havia perdido de vez o juízo.
Só que “Cassinha” estava lúcido e muito determinado, a ponto de estusiasmar os seus pares naquele sertão intocado, de terra muito fértil, que lhe parecia ter a vocação para ser uma próspera cidade.
Sua intenção era começar tudo lá pelos lados da Vila Pernambuco, mas seu Ricardo Barbosa Sandoval lembrou-lhe que ali não era um bom começo devido ao grande desnível. E, assim, “Cassinha” começou o empreendimento da partilha de lotes em sua área de terra, transformando, em algum tempo, o Sertão dos Garcias em Vila São José e depois em Cassilândia, que, conforme já mencionamos, significa, ao pé da letra, “Terra de Cassinha”, uma homenagem, portanto, ao fundador.
Segundo alguns, ele contratou um engenheiro prático para auxiliá-lo nos trabalhos de medição dos lotes, separação das áreas para os órgãos públicos, logradouros diversos etc.
Uma outra fonte garante que “Cassinha” foi em Paranaíba e contratou os engenheiros Augusto Correa e César Mansini para a lida de medição e ordenamento da urbe.
Isso teria ocorrido nos idos dos anos 40. Ali estava começando Cassilândia. Extraído do livro A História de Cassilândia, de Corino Rodrigues de Alvarenga