Para a família da jovem de 15 anos que usou atores negros vestidos de escravos em fotos da festa de debutante, em Belém, a acusação de que o ato é racismo é exagerada. “O racismo é uma acusação pesada. Em nenhum momento passou pela nossa cabeça menosprezar uma raça, tanto que em nossa família existem negros e índios”, declarou a mãe da adolescente, a empresária Bianca Castilho, em entrevista exclusiva ao G1, nesta quinta-feira (15).
As fotos dos preparativos da festa foram publicadas nas redes sociais pela cerimonialista do evento, que tem como tema Jardim Imperial. A debutante aparece sendo servida e vestida por negros. O ensaio foi realizado em um sítio na quarta-feira (14), na região metropolitana. O caso ganhou repercussão da web e indignou os internautas, que consideraram a situação racista.
“Precisam saber o que de fato se passa por trás da imagem, qual o real significado. A escravidão é algo que é fato, sabemos que ainda existe o racismo! E a foto foge do tema real da festa da debutante que é o imperialismo, ‘Jardim imperial’. É fácil criticar sem ter base acerca do assunto, pois é bem mais abrangente!”, disse a mãe.
Bianca disse que sua família está assustada com a repercussão das fotos. “Elas foram interpretadas de forma deturpada”, considera. De acordo com a empresária, a família avalia a possibilidade de acionar a Justiça. “Queríamos acrescentar que a pessoa que evidenciou a postagem acrescentou palavras à imagem que viralizou na internet. Podemos até processar a pessoa que começou todo esse movimento em desfavor do sonho em ter uma festa de 15 anos, que é o momento único para uma adolescente como a minha filha”.
A cerimonialista do evento, Lorena Machado, apagou as fotos e chegou a emitir uma nota de esclarecimento nas redes sociais, que também já foi apagada. Segundo ela, a produção nunca quis ofender nenhum negro.
Cerimonialista se pronunciou nas redes sociais pedindo desculpas (Foto: Reprodução / Facebook)
“É comum naturalizar o negro em posição de serviçal e reproduzir esse discurso, sim, é racismo”, diz ativista
Para Flávia Ribeiro, feminista negra afroamazônica, o episódio traz à tona a naturalização do preconceito racial e a negação da violência do momento histórico que escravizou milhares de africanos.
“Está sendo retratada ali uma pessoa que foi sequestrada, obrigada a trabalhar e que passou anos nessa condição de não ser considerada uma pessoa. Essa é uma dor que durou por quatro séculos e esse povo carrega esse carga até hoje. Ela usaria alguém de um campo de concentração nazista na festa dela? Acho que não”, critica Flávia, integrante do Cedenpa, Rede de Mulheres Negras do Pará, Rede Fulanas e Rede Nacional de Ciberativistas Negras.
“Há esse mito da ‘boa escravidão’. É bonito ter uma mucama servindo a filha e os convidados. Mas não dá pra fazer uma festa com uma pessoa em condição de violência”.
A ativista comenta que ainda que, no episódio, possa não ter ocorrido a intenção de racismo, os envolvidos foram, sim, discriminatórios.
“A falta de intenção não afasta o fato de que houve racismo. É comum naturalizar o negro em posição de serviçal e reproduzir esse discurso, sim, é racismo”. G1