Seria a primeira vez: 14 pessoas da mesma família, em um resort na Costa do Sauípe. De início, a administradora de 37 anos, que não quer ser identificada, conta que desconfiou de alguns preços baixos, porém a indicação veio de uma amiga, que afirmou ter “fechado pacotes” com o mesmo agente de viagens e tudo teria dado certo. No entanto, foi no aeroporto, com as malas prontas para embarcar, que descobriram o golpe.
“Eu prestei depoimento na delegacia, nessa segunda (11). Nós nem chegamos a embarcar. Eu realmente achei algumas coisas baratas demais, só que a pessoa que me indicou disse que viajou e não teve problemas. Ele [golpista] tem um lábia, fala muito bem e infelizmente eu acreditei. Ele também mostrou vouchers da agência, eu liguei lá, falei com um gerente regional e estava tudo confirmado até um dia antes”, afirmou ao G1 a administradora.
Parte dos familiares estava no Mato Grosso e de lá eles não conseguiram embarcar. “Minha prima, na hora de fazer o check in, descobriu que estava tudo cancelado. Naquele momento, ele já não nos atendia mais, não respondia mensagens e os funcionários nos afirmaram que a viagem tinha sido cancelada pelo agente de viagem. O total ficava em torno de R$ 14 mil e ele conseguiu levar R$ 5.580”, lamentou a vítima.
Em seguida, a administradora comenta que o problema quase causou desentendimento em família. “Eu fiquei muito constrangida, porque envolvi muitas pessoas da família. Eu chorei muito e uma tia ficou cobrando, dizendo que até tinha indicado o agente para uma amiga dela. Só que eu expliquei que eu também não tive culpa e ela entendeu depois. Foi uma frustração muito grande”, relembrou.
A vítima foi até a Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) Centro e registrou boletim de ocorrência. “Foi lá que eu fiquei sabendo que outras pessoas tinham registrado a mesma queixa, dias antes. São muitas pessoas que tiveram prejuízo”, lamentou.
Entenda o caso
Um homem de 29 anos, que ficou conhecido como o golpista das passagens, foi preso no dia 26 de fevereiro, perto da casa dele, no Jardim dos Estados, região nobre de Campo Grande. Outro estelionatário, de 40 anos, fazia parte de uma quadrilha que se hospedava em hotéis da cidade e saía sem pagar, também foi preso.
“A investigação aponta ao menos 50 pessoas que caíram no golpe dele. Este homem estava foragido do sistema penitenciário e inclusive temos notícia de que uma família, aqui de Campo Grande, está em Salvador e não tem como retornar por conta dele. Na verdade, ele os enganou e deu somente a passagem de ida. As três pessoas embarcaram, porém não tinha nenhum resort reservado lá”, afirmou na ocasião o delegado Enilton Pires, plantonista da Depac Centro.
Segundo a polícia o golpista dizia ser dono de uma agência de viagens, na qual vendia pacotes luxuosos e com preços vantajosos. No entanto, na data combinada, as vítimas não conseguiam embarcar. Em alguns casos, as pessoas até chegavam ao destino, porém, não encontravam nenhuma reserva no hotel.
Investigação “caseira”
Uma das vítimas, de acordo com Zalla, conseguiu levantar diversas informações sobre o homem, descobrindo inclusive o endereço e o mandado de prisão em desfavor dele. “Esta pessoa acionou a PM [Polícia Militar] e eles então foram lá e o prenderam. O imóvel tinha televisor de 60″, geladeira de última geração, objetos todos que ele colocava em nome da mãe dele, além de dois carros de luxo do ano 2019, com 100 mil km rodados”, ressaltou.
A polícia ainda possui informações de um grupo de viagens, com 22 pessoas, que causou o prejuízo de cerca de R$ 100 mil. “Existem diversas denúncias contra ele, com fotos circulando na internet, inclusive no Facebook. Ele foi questionado e nos disse que está tudo legal, que as passagens não saíram por conta dele e sim por conta da agência”, finalizou.
O golpista, reincidente no crime e com diversas passagens, deve responder por estelionato. A pena varia de 1 a 5 anos de reclusão, além de multa.
No caso do outro golpista, ele dizia ser de “uma grande empreiteira” e que estava na cidade para trabalhar em construções. O homem então se hospedava e prometia efetuar os pagamentos no dia seguinte. Em um dos estabelecimentos comerciais, ele ficou sete dias e foi embora sem pagar. G1