Depois dos 50, Iza encontrou o recomeço em uma máquina de moer cana

Em meio a depressão, a fé a ajudou a se reerguer e recomeçar (Fotos – Cleber Gellio/Midiamax)

Quando a dor se aloja no peito, o coração abre brecha para a depressão. E foi exatamente isso que aconteceu com empresária Izilda Moura Pereira, 56 anos. Há seis anos, após um divórcio, a vida dela virou de cabeça para baixo. E junto com a doença, vieram o desemprego e o isolamento social. Mas foram nos dias de luta que ela também descobriu a fé e o sabor do recomeço.

Durante dois anos, Iza se viu refém da depressão e sem vontade de fazer nada, inclusive de trabalhar. “Não é que eu não queria ir à luta, eu simplesmente não conseguia, não tinha forças”, conta.

Na batalha para vencer a doença, um dia ela aceitou o convite de ir a um encontro na igreja. A fé despertou a cura e devolveu a Iza a alegria e a esperança. “Daquele dia em diante fui outra pessoa”, lembra.

Primeiro recomeço

Na mesma semana, um primo a convidou para gerenciar uma loja dele, de moda feminina. Ela prontamente aceitou e este foi um dos recomeços dela, aos 52 anos. O novo trabalho deu gás à rotina de Iza, que passou a trabalhar em um ritmo intenso.

Pouco tempo depois, a mãe dela desenvolveu Síndrome do Pânico e não podia ficar sozinha. Então, Iza precisou conciliar o trabalho aos cuidados com a mãe. “Muitas vezes, em dias de crise, precisei leva-la para loja comigo e isso começou a ficar inviável”, conta Iza.

Em meio a depressão, a fé a ajudou a se reerguer e recomeçar (Fotos - Cleber Gellio/Midiamax)

Em meio a depressão, a fé a ajudou a se reerguer e recomeçar (Fotos – Cleber Gellio/Midiamax)

O jeito foi buscar mais autonomia no trabalho. Foi quando Iza comprou a loja do primo e foi abrir o próprio negócio. “Parcelei tudo a perder de vista, aluguei um ponto comercial na avenida dos Cafezais que tinha uma casa no mesmo terreno e abri a minha loja”, recorda a empresária.

Um mês e meio depois, a loja foi assaltada e os ladrões levaram tudo. “Fiquei sem chão. Pois tinha as parcelas das mercadorias para pagar e o contrato de um ano do local onde estava morando”, lembra.

Sem muita saída, Iza fez empréstimos para poder ir a São Paulo e repor as mercadorias. Conseguiu manter a loja com as portas abertas por um ano, mas a falência foi inevitável. “O dinheiro não girou, porque daí eu tinha as parcelas do meu primo, os gastos mensais de casa e ainda o empréstimo pra pagar. Chegou uma hora que não entrava mais nada e não tinha como repor as mercadorias”, conta.

Segundo recomeço

Sem mais nada, exceto dívidas, Iza não conseguia encontrar solução. Foi quando uma tia dela chegou indicando uma possibilidade nova. “Ela disse que eu precisaria recomeçar do zero e com algo pequeno, que me desse um retorno rápido. Foi então que ela sugeriu que eu investisse em uma máquina de moer cana”, lembra.

E aos 54 anos, lá estava Iza, cara a cara com diversos desafios e também do preconceito que ela encontrou até mesmo dentro de si. “Eu era bancária, colunista social, gerente de loja, e agora teria que me virar como garapeira?! Fiquei pensando no que as pessoas falariam de mim”, confessou.

Mas logo a realidade chacoalhou Iza. “Por outro lado, lembrei de que ninguém pagaria minhas contas”, pontuou. E assim, ela estufou o peito e caminhou em direção a mais um recomeço.Como ela não tinha emprego e nem renda, a maior dificuldade foi fechar o contrato de aluguel de um imóvel onde ela se mudaria com a mãe. Depois de muito bater perna por Campo Grande e de muitos “nãos”, enfim, conseguiu encontrar quem desse credibilidade a ela.

Há dois anos, Iza alugou uma nova casa, comprou a máquina de moer cana e abriu, mais uma vez, o próprio negócio, que batizou de “Quiosque Caipira”. No quintal da residência, ela começou a vender caldo de cana, água de coco e pastelzinho a R$ 1.

Aos poucos, ela foi adequando o espaço para atender melhor os clientes. Calçou o quintal, fez um jardim, colocou cobertura, melhorou o funcionamento dos trabalhos e até aumentou o cardápio. Hoje, ela também vende açaí.

Devagar, ela confia que tudo dá certo na vida, basta ter paciência, perseverança e, o principalmente, fé. E, de quebra, nos ensina que para recomeçar nunca é tarde.

O Quiosque Caipira fica na avenida Lúdio Martins Coelho, próximo ao portão da base Aérea, e fica aberto das 11h às 22h. Midiamax

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