Com 12 mil na fila, pacientes morrem a espera de consulta

Em busca de atendimento, população sofre e espera – Foto: Bruno Henrique / Correio do Estado

O atendimento de médicos especialistas na rede pública de saúde pública de Campo Grande é marcado pela longa espera por consulta, que as vezes pode demorar até anos. De acordo com a prefeitura, aproximadamente 12 mil pessoas aguardam na fila por consultas, exames e cirurgias em diversas especialidades.

O reflexo da longa fila é a demora para que o paciente – muitas vezes idosos e enfretando dores  – tenha o primeiro contato com o médico. Esse foi o caso do tio de Loudeslon Ortiz Prado, 26 anos.

Segundo o rapaz, o tio, Doto Pires, procurou consulta no Centro de Especialidades Médicas (CEM) por não estar bem. Depois de esperar muito tempo, ele decidiu procurar atendimento particular e descobriu que estava com câncer. Ortiz conta que o tio fez todo o tratamento na rede particular, entretanto faleceu há mais de três anos, em decorrência da doença.

O fato inusitado, porém, aconteceu há algumas semanas, quando a esposa do falecido recebeu uma ligação informando que a consulta com o especialista havia sido agendada e que ele poderia ir até o CEM para receber atendimento.
“Quando você é atendido já está em fase terminal”, reclamou a mãe do rapaz e irmã de Doto, Lourdes Ortiz, 44 anos. Ela e o filho, que mora em Jardim – a 238 km de Campo Grande – estiveram na quinta-feira (3) no CEM para acompanhar Júlio Ortiz, 76 anos, para uma consulta no cardiologista.

Conforme Loudeslon, o avô tinha recomendação do médico para fazer um exame de ecocardiograma com urgência no local, mas só foi realizado um mês depois do encaminhamento.

Situação semelhante viveu a dona de casa Juliana Aparecida Gibin. Em 2016 ela foi atropelada ao buscar o filho na escola. Como o caso a princípio era de urgência, ela foi atendida na Santa Casa. Porém, após receber os cuidados necessários foi encaminhada para consulta com ortopedista no CEM, mas foi informada de que teria contato com o médico em quatro meses.

“Eu precisava de um laudo que comprovasse que eu não tinha condições de trabalhar, porque tenho escoliose e com o acidente ele piorou ainda mais. Eu era cuidadora de idosos, mas não aguentava mais de dor e tive que sair do serviço. Precisava então entregar esses laudos no INSS”, contou.

Como Juliana estava com muita dor, mas não tinha condições de pagar médico particular, decidiu voltar para sua cidade natal, Echaporã (SP), para buscar ajuda. “No dia seguinte que cheguei lá já fui atendida pelo médico. Fiz todo o meu tratamento lá e depois voltei. É uma cidade pequena, mas o atendimento é muito bom”.

OPINIÃO

Para os usuários, a decisão da prefeitura de liberar os médicos especialistas de cumprirem toda a carga horária pode piorar ainda mais a situação. Os pacientes temem também que a qualidade da consulta seja afetada, já que os profissionais terão um número determinado de pessoas para atender diariamente e, caso tenham atingido a quantidade, poderão ir embora se já tiverem cumprido 50% da carga horária.

“Vai piorar. Se já estava ruim antes, agora que vai ficar pior. Geralmente as consultas demoram 30 dias, quando são rápidas. Se está muito demorado, eu acabo pagando no particular”, afirmou a aposentada Lucy Montiel, 80 anos, que geralmente procura atendimento com ortopedistas e geriatras.

A opinião da aposentada é compartilhada com muitos dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). “Agora eles vão atender a gente em cinco minutos, passar dipirona e ibuprofeno e mandar embora”, brincou Lourdes.

CARGA HORÁRIA

A proposta, conforme a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), tem objetivo de aumentar o número de consultas ofertadas nas especialidades médicas disponibilizadas na rede própria do município, de acordo com a carga horária dos médicos, com a possibilidade de flexibilização no cumprimento de jornada de trabalho nas Redes de Atenção Especializada e Psicossocial.

“Espero que com essa medida os médicos que serão contratados em novo concurso público não peçam para sair logo depois, porque é isso que acontece geralmente”,disse o presidente do Sindicato dos Médicos do Estado (Sinmed-MS), Marcelo Santana Silveira.

Correio do Estado

Compartilhe:
Posted in Noticias and tagged .

Deixe um comentário