Ruth de Souza morreu no Rio neste domingo (28). Quem deu a notícia foi Cláudia Mastrange, jornalista e amiga da atriz. A atriz, de 98 anos, estava internada no Hospital Copa D’Or, na Zona Sul da cidade, há uma semana, onde deu entrada com pneumonia. A causa da morte ainda não foi divulgada. Em comunicado oficial, o hospital confirmou a morte da atriz no fim da manhã.
‘O Hospital Copa D’Or informa, com pesar, o falecimento da paciente Ruth de Souza, às 11h20 deste domingo’, dizia o comunicado. Em 2019, Ruth foi homenageada pela escola de samba carioca Acadêmicos de Santa Cruz durante desfile da série A do Carnaval.
O último trabalho da atriz na TV foi na minissérie Se Eu Fechar os Olhos Agora, também neste ano. Na história recriada por Ricardo Linhares a partir do romance original de Edney Silvestre, ela viveu Madalena.
Idosa e abandonada, a personagem era ‘adotada’ pelos meninos Paulo Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) antes de ser assassinada de forma brutal e misteriosa.
Ruth de Souza nasceu em 12 de maio de 1921, no bairro do Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Filha de um lavrador e de uma lavadeira, desde criança sonhava em ser atriz. Entrou para o Teatro Experimental do Negro e fez história ao ser a primeira atriz negra a apresentar no Theatro Municipal do Rio. Foi no dia 8 de maio de 1945, em O Imperador Jones, de Eugene O’Neil.
Em 1948, ganhou uma bolsa de estudos da Fundação Rockfeller e foi estudar na Howard University, uma universidade exclusiva para negros, em Washington. Nos Estados Unidos, estudou também na escola de teatro Karamu House, em Cleveland, Ohio.
A atriz também foi uma das pioneiras da TV brasileira. Participou de programas de variedades e musicais no início das transmissões da Tupi, até adaptar para a televisão, com Haroldo Costa, a peça O Filho Pródigo, que havia encenado no Teatro Experimental do Negro. A primeira novela foi A Deusa Vencida (1965), de Ivani Ribeiro, na Excelsior.
Ruth ajudou a abrir caminho para o artista negro no Brasil. Em 1968, foi contratada pela Globo para atuar na novela Passo dos Ventos, de Janete Clair. Na emissora, fez mais de 20 novelas. Em A Cabana do Pai Tomás (1969), de Hedy Maia, foi Tia Cloé, uma das líderes do movimento que levou à abolição da escravidão nos Estados Unidos dividido pela Guerra de Secessão.
Na década de 1970, participou de clássicos da dramaturgia da Globo, como Pigmalião 70 (1970), Os Ossos do Barão (1973), O Rebu (1974), Helena (1975) e Duas Vidas (1976). Fez dupla com Grande Otelo em Sinhá Moça (1986), de Benedito Ruy Barbosa.
Em Mandala (1987), de Dias Gomes, voltou a atuar com o ator, formando com ele, Milton Gonçalves e Aída Lerner a primeira família negra de classe média da TV brasileira. Também teve papéis de destaque em O Bem-Amado (1973).
Outros trabalhos de destaque em sua carreira na emissora foram O Clone (2001), de Gloria Perez; Memorial de Maria Moura (1994), adaptação do romance homônimo de Rachel de Queiroz, escrita por Jorge Furtado e Carlos Gerbase; Amazônia – De Galvez a Chico Mendes (2007), de Gloria Perez e no seriado Na Forma da Lei, como a Velha Oxalá (2010).
A atriz estreou no cinema por indicação do escritor Jorge Amado em Terra Violenta (1948), adaptação de seu romance Terras do Sem Fim dirigida por Tom Payne. No mesmo ano, atuou ao lado de Oscarito em Falta Alguém no Manicômio.
Fez mais de 30 filmes, incluindo Sinhá Moça, também de Payne, que a levou a concorrer ao prêmio de Melhor Atriz do Festival de Veneza de 1954. A atriz esteve também no clássico O Assalto ao Trem Pagador (1962), de Roberto Farias; e As Filhas do Vento, de Joel Zito Araujo, com o qual foi premiada no Festival de Gramado de 2004. REVISTA QUEM