População se mobiliza para evitar novos ataques de “cangaceiros”

Agência bancária explodida por assaltantes, no ano passado, em Chapadão – Foto: Reprodução

Para evitar novos ataques a agências bancárias, moradores dos municípios do interior de Mato Grosso do Sul, que tiveram registros de casos desde 2016 até este ano, resolveram se unir.

Em algumas cidades, a intenção é adquirir um sistema de monitoramento, tudo pago por quem vive na cidade, com a ajuda de doações, rifas e bingos.

Em pouco mais de três anos, foram seis ataques do grupo de criminosos conhecido como “novo cangaço” a agências bancárias de cinco municípios do Estado, nas cidades de Coronel Sapucaia, Chapadão do Sul, Paranaíba, Pedro Gomes e Sonora.

Em Pedro Gomes, a 310 quilômetros de Campo Grande, as mudanças e melhorias na área da segurança pública são feitas por meio do Conselho de Segurança, sem nenhum tipo de apoio dos órgãos de segurança e da administração estadual.

O grupo – formado também por empresários e policiais civis e militares – se organizou e abriu até uma conta-corrente a fim de receber doações para a compra de um sistema de segurança completo, que deverá atender toda a cidade.

Mas o custo é alto, chega a R$ 90 mil, e por isso, após mais de 32 meses do ataque, apenas duas câmeras foram adquiridas.

“Fizemos orçamentos com três empresas e a que apresentou melhor preço ofereceu 20 câmeras por R$ 90 mil. Cinco equipamentos são bem avançados, que pegam até placas e acompanham o trajeto dos motociclistas.

Estas queremos colocar nas entradas da cidade”, explicou o delegado da Polícia Civil, Murilo Jorge Vaz. O acesso à área urbana de Pedro Gomes pode ser feito por quatro estradas, pela rodovia MS-215, que dá acesso a BR-163 (e aos municípios de Coxim e Sonora) e também ao Mato Grosso, além da MS-418 e de estradas vicinais.

A cidade tem aproximadamente 7,5 mil habitantes, que precisaram mudar os hábitos para se adaptar à nova realidade, após o ataque à única agência bancária – do Banco do Brasil –, em novembro de 2016. Até hoje, a população sofre por não ter acesso a serviços bancários simples, como saque. O município tem somente um caixa eletrônico em funcionamento, que não tem a função para retirada de dinheiro, instalado na antiga agência.

O Banco do Brasil construiu uma nova agência, porém, sem nenhum equipamento instalado no local. “Deveria ser uma situação temporária. Estamos sofrendo sem serviço bancário. Para colocar o caixa dentro da agência nova é perto, uns 100 metros, mas o banco diz que precisa licitar uma transportadora.

Mas três ou quatro conseguiriam levar de um lugar para o outro”, disse o morador da cidade Evandro Pereira. O Banco do Brasil foi procurado, porém, não respondeu quando o caixa vai ser levado para a nova agência e os serviços serão disponibilizados.

Em Chapadão do Sul, duas agências – do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal (CEF) – foram atacadas durante a madrugada do dia 7 de novembro de 2018.

“Tivemos uma série de treinamentos com o Bope e o Choque e com participação da Polícia Militar Rodoviária. Recebemos orientações estratégicas e estamos elaborando o plano de defesa da cidade, com apoio das vizinhas Costa Rica e Paraíso das Águas e também Chapadão do Céu, que é em Goiás”, explicou o subcomandante da PM, capitão Andrew Nascimento. Em anos anteriores, Costa Rica e Paraíso das Águas também tiveram registros de assaltos a bancos.

Em Paranaíba, onde uma agência da CEF foi atacada em maio de 2017, as investigações do caso foram conduzidas pela Polícia Federal. Mas o  delegado da Polícia Civil de Paranaíba, Arivaldo Teixeira, informou que os policiais civis e militares também foram treinados para ações de atuação do “novo cangaço”. “Antes do último ataque, tivemos outros casos registrados e conseguimos prender os autores em Cassilândia”.

O ataque mais recente ocorreu no dia 5 de abril deste ano, em Coronel Sapucaia, a 395 quilômetros de Campo Grande e que faz fronteira com a cidade paraguaia de Capitán Bado. No dia 8 de julho, mais de três meses depois do crime, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, determinou a atuação da Força Nacional de Segurança no Estado e, há pelo menos duas semanas, o grupo de elite passou a trabalhar na região.

O município passa por crise na segurança pública, inclusive com ameaça do presidente do Tribunal de Justiça do Estado (TJMS), desembargador Paschoal Carmello Leandro, de fechar o fórum da cidade em razão da violência. Por conta do clima de tensão e medo, os moradores evitam sair à noite.

No dia em que a agência bancária do Sicredi foi explodida, os bandidos usaram até lança-chamas para poder roubar o dinheiro que estava no cofre. O bando chegou a encurralar a polícia, fazendo disparos contra a Delegacia de Polícia Civil. Sem revelar quantos policiais devem ser destacados para o local, a previsão é de que o grupo atue por no mínimo 180 dias. Além de Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná foram contemplados.

“A população se manifestou, pedindo mais segurança. Fronteira seca, como é aqui, é complicado. Os bandidos fugiram provavelmente para o Paraguai, depois do ataque. Não adianta também ter efetivo maior da polícia só em Amambai, que é 50 km daqui, se a cada 200 metros nas estradas rurais [os bandidos] podem passar para o outro país”, opinou o prefeito Rudi Pae­tzold (PSDB).

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