Sem férias há 9 anos, cadeirante trabalha em mínimo espaço e vende ‘café com lição de vida’

Idoso trabalha em espaço de apenas 80 centímetros, durante 9 anos e sem férias  (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)

Idoso trabalha em espaço de apenas 80 centímetros, durante 9 anos e sem férias (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)

Não vejo a hora de chegar as férias”. “Meu chefe é um chato!”. “O computador está lento, deviam arrumar isto aqui”. “A cadeira não é confortável”. Fazemos tantas reclamações que, muitas vezes, esquecemos de agradecer o trabalho, o direito de ir e vir e benefícios no final do mês. Adelino Alves de Souza, de 61 anos, é daqueles que teria muitos motivos para se queixar da vida, mas, opta pelo contrário.

Há 9 anos, ele não tem dias de descanso e, paraplégico por conta do tiro que levou em um assalto, “estaciona” diariamente a cadeira de rodas em um espaço de 80 centímetros. Para os clientes, entre outros produtos, ele vende “café com lição de vida”.

“As coisas não acontecem por acaso. Hoje vivo bem, 90% melhor desta maneira, sendo cadeirante. Aprendi muito sobre a vida, o ser humano e entendi que não adianta reclamar de nada. Eu desenvolvi as habilidades e hoje consigo me virar sozinho. Faço algo que gosto, porém não é o que me realiza e nem por isto fico reclamando. É o meu sustento e com ele comprei o meu carro adaptado e mantenho a minha casa”, afirmou ao G1o microempresário.

Clientes gostam de conversar com seo Adelino e aprender lições de vida com ele (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)

Clientes gostam de conversar com seo Adelino e aprender lições de vida com ele (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)

O local de trabalho do idoso é uma baseo Adelino e aprender lições de vida com ele (Foto: Graziela Rezende/G1 MS)nca na rua Dom Aquino, quase no cruzamento com a 14 de julho, região central de Campo Grande. Além de vender café, salgados, refrigerantes, bolos, sucos e o “queridinho” sorvete expresso, no qual seo Adelino prepara a massa e pacientemente fala os sabores que vão do chocolate ao mamão papaya, os clientes também ganham “injeção de ânimo e muitas lições de vida” com as palavras do microempresário.

“Eu já deixo as casquinhas todas preparadas na gaveta para ele, que precisa apenas pegar e servir o sorvete. Também estou sempre atenta, sou os olhos dele, nas costas dele. Se eu vejo que o açúcar está acabando, preencho mais para ele. A intenção é fazer de tudo para facilitar a vida. O mais díficil é que ele conversa bastante com os clientes”, brincou Denise Pereira Rodrigues, de 36 anos, que divide o pequeno espaço de trabalho há 3 anos.

Adelino acorda muito cedo, prepara a marmita e a coloca em seu carro adaptado. Quando chega na rua da banca, guarda veículo no estacionamento e faz questão de descer sozinho. Aos que ofereciam ajuda, já sabem que não é dó nem orgulho, é simplesmente o jeito dele levar a vida. “Aprendi a ser assim. Me sinto bem, mas, um pouco preso. Então o que me realiza são as viagens. Aos finais de semana, pego o carro e vou para o interior do estado, sem medo. Já cheguei uma vez até Rondônia”, garantiu.

Adelino atualmente mora sozinho, porém já foi casado, teve também outro longo relacionamento e uma filha. “Eu não sou formado, tenho a faculdade da vida. Mas, tenho satisfação em dizer que formei a minha filha em Matemática. Já tinha me tornado cadeirante, mas, lutei e paguei os estudos dela. Também tenho a minha casa própria e, se tenho algo a dizer, é que a gente não deve ser desonesto com as pessoas. Quando você pensa em dar um golpe, é você mesmo que está sendo prejudicado”, avaliou.

 

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