Movida a saudade, Mariam criou grupo que rememora os ‘Anos Dourados’ da Capital

Ao longo dos anos, grupo reúne relíquias que remontam história da Capital (Reprodução/Facebook)

Como eram as festas nos clubes de Campo Grande, frequentados pela juventude da cidade na década de 1960? Quem era a mais bela campo-grandense e a qual cinema ela costumava ir durante os fins de semana? Qual era a escalação do Primeiro de Maio ou do Continental Mamoré na mesma época? Para quem tem menos de 50 anos, responder a essas perguntas é quase impossível, a não ser, é claro, que esteja no grupo ‘Anos Dourados Campo Grande’, uma comunidade no Facebook que há quase cinco anos reúne peças desse quebra-cabeça.

Com mais de 3.500 membros, o grupo reúne verdadeiras relíquias de décadas passadas, na época em que Campo Grande nem era capital. Fotos antigas, histórias compartilhadas e, principalmente, os personagens reais dos tempos dourados de Campo Grande. “Acho que esse é o ponto alto do grupo: ele proporcionou que muita gente que não se via há 30 ou 40 anos voltasse a ter contato, nem que fosse virtual”, descreve a cirurgiã-dentista Mariam Kodjaoglanian Di Giorgio, criadora do ‘Anos Dourados’.

​Ela, a propósito, é uma das personagens e revela que foi a saudade que motivou a criação do grupo. “Ali a gente tem um foco, que são os anos 50, 60, uma época em que a gente era muito jovem e a cidade era muito pequena, todo mundo tinha entre 14 e 15 anos, por aí… Só que depois muitos foram estudar fora, foram embora, e a gente nunca mais teve notícia. E o grupo proporcionou esse reencontro”, diz Mariam.

Um dos reencontros marcantes foi o do geólogo campo-grandense radicado no Rio de Janeiro, Victor Dauzacker, conforme relata a criadora do grupo. “Ele era nosso amigo e passou 40 anos fora de Campo Grande. Quando viu o grupo, ele conseguiu resgatar a amizade com muita gente. Veio até nos visitar. Infelizmente ele faleceu algum tempo depois, mas teve a chance do reencontro e de se despedir dos amigos”, detalha.

“Não tem dinheiro que pague”

Com o passar dos anos, alguns membros ficaram mais ativos e o grupo tornou-se uma espécie de relicário de lembranças, cujas relíquias valem mais que dinheiro, segundo os relatos no grupo. Dentre os ‘tesouros’ estão principalmente as fotos, que ajudam a reconstituir desde a paisagem urbana – incrivelmente modificada ao longo do tempo – aos relatos que reconstroem a lembrança dos bailes de carnaval, noitadas e domingueiras nos clubes, sessões memoráveis de cinema e até mesmo as manifestações cívicas da época, como os desfiles de 26 de agosto.

“A cidade tinha alguns clubes, que existem até hoje, mas que era muito mais frequentados. Nós frequentávamos o Surian, o Libanês, o Rádio Clube Cidade e depois a sede de Campo… É interessante, porque os relatos dão a dimensão de que a cidade era diferente”, conta a cirurgiã dentista.

Para celebrar um ano de comunidade, até um jantar foi realizado. “Infelizmente só teve um. Veio gente de fora, conseguimos reunir muitas pessoas. Agora em dezembro reuni minhas amigas do Auxiliadora para celebrar a conclusão do curso de magistério, em 1967, e fizemos de missa a coquetel. Reencontrei minhas amigas, conheci os maridos, filhos, netos. Veio gente até de Cuiabá e do Rio de Janeiro”.

Cinco anos após sua criação, a comunidade continua bastante ativa e todos o dias surgem novidades que ajudam a reconstituir as lembranças do passado. “Eu mesma postei várias fotos minhas. Fui marcadas em fotos que nem imaginava que existiam, e fiquei muito contente, muito feliz. Vou fazer mês que vem 69 anos. Cheguei aqui com 11, e já aprendi o que conta para a nossa vida são as amizades e no grupo reencontrei muitas. Eu tenho orgulho e prazer de dizer não tem dinheiro que pague essas amizades que eu fiz aqui nesses 58 anos”, conclui.

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