Cadeia reformada para receber presos da Lava Jato é palco de episódios bizarros

Em menos de 24 horas, a Cadeia Pública José Frederico Marques, reformada recentemente para receber presos da Lava Jato, em Benfica, foi palco de dois episódios bizarros. O primeiro envolve um dos mais novos internos, Anthony Garotinho.

O ex-governador denunciou que foi agredido com taco de beisebol e ameaçado com arma de fogo dentro de sua cela na madrugada de ontem. A Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) afirmou, no entanto, que Garotinho inventou a agressão e o puniu com transferência para Bangu 8. Também ontem, o Ministério Público apreendeu na unidade quitutes de luxo destinados a Sérgio Cabral e outros políticos e empresários presos no local.

Em depoimento à 21ª DP (Bonsucesso), Garotinho relatou que foi acordado, dentro da cela, por um homem com um bastão e uma pistola de cor prata. Segundo o ex-governador, o indivíduo o teria mandado descer da beliche e questionado: “Você gosta muito de falar, não é?”. O sujeito teria então desferido um golpe com o taco no joelho de Garotinho e ameaçado, puxando a arma de fogo: “Eu só não vou te matar para não sujar para o pessoal aqui do lado” (os presos da Lava Jato). Em seguida, o suposto agressor teria dito que daria uma lembrança ao político e pisado em seu pé.

A Seap ressaltou, em nota, que Garotinho estava sozinho em uma galeria composta por nove celas vazias e que câmeras não detectaram presença de qualquer pessoa na galeria, sugerindo que ele teria se lesionado sozinho. As imagens mostram que o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes, preso na unidade, prestou atendimento médico ao detento após ser chamado por guardas. A Seap decidiu transferir Garotinho para a Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira (Bangu 8) como punição por não ter provado as supostas agressões. Lá, ele será monitorado 24 horas por uma câmera localizada no interior da cela.

Antes da decisão da Seap, o advogado de Garotinho, Carlos Azeredo, afirmou que iria pedir à Vara de Execuções Penais (VEP) transferência de seu cliente para outra unidade, alegando que ele corria risco no local. O MP fez o pedido, que foi rejeitado (o que não impedia a Seap de transferi-lo). Desde que foi preso, na quarta-feira, o político dizia temer pela sua vida, porque a cadeia em Benfica abriga inimigos seus do PMDB. A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar crime de agressão. Garotinho fez exame de corpo de delito no IML e voltou para Benfica. O laudo deve ficar pronto até semana que vem. O ex-governador foi transferido para Bangu 8 por volta das 22h.

De acordo com o advogado Frederico de Lima Santana, se for comprovado que não houve agressão, ele pode ter cometido ‘comunicação falsa de crime’ (pena de um a seis meses de prisão ou multa). O defensor de Garotinho afirmou que ele faria retrato falado.

As imagens, veiculadas pela ‘Globonews’, mostram o ex-governador cabisbaixo diante da descoberta. É possível ver que pelo menos um tonel com gelo tinha o nome Cabral no topo. Segundo o MP, os alimentos irregulares eram não só para Cabral, mas para presos da Lava Jato, como Adriana Ancelmo, Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, além de Garotinho e Rosinha, presos em outra operação.

A Seap respondeu que todo o visitante de interno do sistema penitenciário pode levar até três bolsas de supermercado com alimentos ou itens de higiene pessoal. O órgão ressaltou que o recipiente com gelo encontrado era artesanal e feito com baldes de plástico pelos próprios internos. E acrescentou que em todas as unidades prisionais existem fornos de micro-ondas no pátio de visitas para presos e visitantes.

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