No mesmo dia, Oceni descobriu que estava com covid-19 e morreu horas depois

Oceni, ao lado dos netos. (Foto: Arquivo da Família)

Oceni, ao lado dos netos. (Foto: Arquivo da Família) –

Sete horas. Esse foi o tempo entre a aposentada Oceni Maria da Silva, 60 anos começar a passar mal e acabar morrendo. No domingo, 11 de julho, sem que ninguém esperasse, seu quadro de saúde agravou e no mesmo dia em que descobriu estar com covid-19, ela faleceu.

Quem relata a história é a nora da idosa, Fabiana Pereira da Silva, 33, que acompanhou a sogra desde o momento em que ela precisou ir ao hospital até a despedida final. Com histórico de problemas no coração, hipertensão e no pulmão, Oceni costumava ter dias com algum sintoma de bronquite ou cansaço.

Na semana do dia 11 de julho não foi diferente e ela, que lidava diariamente com venda de frangos e porcos do seu sítio, teve sintomas de gripe, alguma falta de ar e também dor no estômago. O alerta para covid-19 não se acendeu porque Oceni só ia de casa para o sítio e vice-versa. Os clientes que atendia, eram todos no portão.

“Ela não saía de casa. Depois que aposentou, ela ia e voltava do sítio toda tarde. Vendia porco e frango. Essa era a rotina dela. Não era de festa e as entregas, sempre fazia no portão”, relata a nora, enfatizando que não há como saber de que forma a sogra foi contaminada pela covid-19, o que “foi um susto”.

Mas o susto, segundo Fabiana, não foi apenas o fato de descobrir que Oceni estava com o novo coronavírus, mas também diante do atendimento recebido por ela na Santa Casa de Cassilândia. Para Fabiana, “um descaso”.

Fabiana e a sogra. (Foto: Arquivo Familiar)

Fabiana e a sogra. (Foto: Arquivo Familiar)

O primeiro atendimento de Oceni foi no Hospital São Lucas, de onde foi levada para a Santa Casa, referência para covid-19 no município. “Ela não atendeu a gente no sábado de manhã e quando o irmão dela chegou na casa, ela estava mal, com muita fraqueza e com sono”, contou.

Assim, foi levada para o São Lucas, onde foi testada e deu positivo para o novo coronavírus. Devido o estado delicado, foi encaminhada para a Santa Casa, onde recebeu oxigênio, mas não foi entubada porque o hospital não conta com leito de UTI e por isso, precisaria ser transferida para Chapadão do Sul.

“Deixei minha sogra consciente na Santa Casa e fui pra casa, Por volta das 16 horas a irmã dela foi ao hospital e foi informada que ela estava muito mal e então ela me ligou e eu não estava sabendo de nada, sendo que deixei meu telefone lá para me avisarem qualquer alteração. Nem sobre a transferência haviam me falado”, lamentou Fabiana.

Ao chegar na Santa Casa cobrou uma explicação e foi então que foi informada da piora no estado de saúde e da necessidade de ir até unidade hospitalar da outra cidade para ser entubada. “Ela teve duas paradas cardíacas antes de sair de Cassilândia, mas isso só fui saber quando chegamos em Chapadão”.

A nora conta ainda que a ambulância usada para transportar a sogra não era UTI e que o oxigênio levado para que Oceni recebesse, acabou antes de chegarem em Chapadão. Para ela, houve muita negligência e mesmo que a sogra viesse a falecer de covid, Fabiana acredita que esse momento foi de alguma forma antecipado diante do mau atendimento.

Na cidade vizinha, onde chegaram às 18 horas, o médico que recebeu Oceni disse que estavam esperando a paciente desde às 15h30 e que diante dos batimentos cardíacos baixos – 40 por segundo – seria preciso reanimá-la, o que foi feito na ambulância mesmo.

“Eles tentaram reanimá-la e depois de um tempo todos desceram da ambulância e ficaram conversando, parados. Fui então perguntar o que estava acontecendo e como estava minha sogra, foi então que uma prima dela que trabalhava lá disse que ela tinha falecido”, afirmou.

Diante da confusão e da comunicação falha, a família procurou a prefeitura, que se colocou à disposição para ouvir a situação. Fabiana diz que pretende tomar alguma atitude, para que situações como a da sogra não se repitam com outras pessoas. “Como tivemos que ficar em quarentena, não deu tempo de correr atrás de nada, mas pretendo ir”.

Memória – “Minha sogra era uma pessoa muito correta, não deixou uma dívida”, comentou a nora, lembrando ainda que Oceni “era uma mãe que ajudava a todos e que orientava toda a família”.

Chorando, Fabiana diz ainda que a sogra era do tipo que defendia a família, conselheira e que o que todos aprenderam com ela foi ter responsabilidade. “A assumir as responsabilidades”, define.

O marido de Oceni também testou positivo para covid-19, dos demais, nenhum. Além de dois filhos, Oceni deixa ainda dois netos de 14 e 15 anos, para os quais ela seria uma segunda mãe.

CAMPO GRANDE NEWS

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