O número de novas internações de idosos com 90 anos ou mais por Covid caiu 20% após pouco mais de um mês do início da campanha de vacinação, o que contrasta com a alta de 10% no número geral de hospitalizações pela doença observada no mesmo período no país. Na faixa etária dos 30 aos 39 anos, o aumento foi de 50%.
Os dados indicam que a imunização dos grupos mais vulneráveis, iniciada em 18 de janeiro, já pode estar causando impacto positivo na evolução da pandemia nessa população e reforçam a necessidade de aceleração da campanha.
Os índices foram calculados pelo Estadão com base nos dados do Sivep-Gripe, sistema do Ministério da Saúde que traz os dados sobre internações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave).
Selecionando só os registros com confirmação para Covid por faixa etária, a reportagem verificou que o número de novas hospitalizações de pessoas com 90 anos ou mais caiu de 528 na última semana epidemiológica de janeiro –primeira após o início da campanha– para 425 na última SE de fevereiro, quando o programa de imunização completava 5 semanas.
Se considerado todo o grupo de idosos, ou seja, brasileiros com 60 anos ou mais, também houve uma queda nas internações, ainda que tímida: 2,7% (de 9.327 para 9.073 casos entre as semanas analisadas). Já o número de novas internações por Covid em todas as faixas etárias subiu de 16.699 para 18.347 (alta de 10%).
Entre a população de 30 a 39 anos, na qual foi registrado o maior aumento porcentual (50%), as novas internações passaram de 1.292 para 1.767 no intervalo analisado.
Análise considera prazo para notificações no sistema federal
A análise foi feita até a última semana epidemiológica de fevereiro (SE 8) porque a notificação dos casos no sistema federal costuma demorar dias ou semanas, o que faz os dados mais recentes, de março, estarem incompletos ou defasados. Por essa razão, o Estadão também decidiu não analisar os dados de óbitos por faixa etária, pois como a morte costuma ocorrer semanas após a infecção, os dados do final de fevereiro provavelmente seriam referentes a infecções prévias à vacina.
Especialistas dizem que ainda é cedo para atribuir a redução somente à vacinação, principalmente pelo fato de as vacinas precisarem de três a seis semanas, dependendo do imunizante, para conferir proteção. Mas admitem que os primeiros resultados da campanha podem já estar aparecendo.
“Uma diminuição de 20% nas hospitalizações já é um número que nos anima, em especial em um grupo que a gente sabe ser muito vulnerável. Esse dado, ainda que preliminar, confirma estudos de efetividade feitos em países com vacinação mais acelerada e que viram quedas nas mortes e hospitalizações. São resultados da vida real que mostram que a vacina funciona”, diz Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Ele se refere a análises feitas na Europa com os resultados de efetividade da aplicação em massa dos imunizantes da Pfizer/BioNTech e Oxford/AstraZeneca, esta última disponível também no Brasil.
Resposta imune de vacinas que dependem de 2 doses logo na primeira aplicação é comum
Cunha explica que, embora ainda não tenhamos estudos do tipo para a Coronavac, é comum que imunizantes com mais de uma dose já comecem a provocar alguma resposta imune mesmo antes de concluído o esquema vacinal.
“Em todas as vacinas que têm esquema de mais de uma dose, a imunidade vai num crescente a partir da primeira e chega ao índice máximo, aquele visto no estudo clínico, depois da conclusão de todas as doses”.
Segundo estudos, a vacina Covishield, desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca, tem eficácia de 76% após três semanas da aplicação da primeira dose. Já a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, alcança a eficácia ideal duas semanas após a segunda dose (o tempo total entre a primeira dose e a proteção varia de 5 a 6 semanas, dependendo do intervalo entre as duas doses).
Isso não quer dizer, como explicou Cunha, que antes disso não haja nenhuma proteção, mas esses dados ainda não estão disponíveis.
Pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Leonardo Bastos pondera que, embora os dados possam já demonstrar uma tendência de queda nas hospitalizações de indivíduos dos grupos vacinados, o comportamento dos mais jovens também pode explicar por que as hospitalizações caem entre idosos e sobem em outras faixas etárias.
“Os idosos ainda parecem estar mais reclusos do que os mais jovens, que estão se expondo mais ao risco. Há também as novas variantes, cujo papel ainda não sabemos. Pode já ter um efeito da vacina (na queda das hospitalizações entre idosos), mas acredito que ele seja pequeno”, opina o especialista.
Para Juarez Cunha, a aceleração da vacinação é imprescindível não só para salvar vidas, mas também para reduzir a pressão sobre o sistema de saúde em momentos críticos como o atual. “Mesmo que seja uma redução de 10% de internações de idosos, já alivia a demanda”, diz.
Vacinados
De acordo com análise feita pelo Estadão a partir dos microdados de vacinação do Ministério da Saúde existentes no portal de dados abertos Brasil, cerca de 43,4 mil idosos com 90 anos ou mais (institucionalizados ou não) tomaram a primeira dose da vacina ainda em janeiro, o que poderia já significar algum nível de proteção no fim de fevereiro.
Desse total, 23,5 mil receberam a Coronavac e outros 19,9 mil, a Covishield. Até a última quinta-feira, dia 10, 583 mil idosos dessa faixa etária haviam sido vacinados, dos quais 262 mil já receberam também a segunda dose.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.