Foi dirigindo pelas estradas desse Brasil que o campo-grandense Juliano Rocha Andrade encontrou sua alma gêmea: assim como ele, a gaúcha Márcia Regina Tavares da Silva também rodava com seu caminhão em busca de um destino para “fincar os pés”. Juntos, não só encontraram o carinho e afeto em comum, mas a paixão de dividir o volante dentro do caminhão cor de rosa que bem chamam de casa.
“Por enquanto estamos noivos, mas já ‘casados’ pela profissão. A gente quer fazer o casamento mesmo em um posto de gasolina, com nosso ‘cor de rosa’ ao fundo, que é onde praticamente temos vivido a nossa vida juntos”, disse Juliano.
Dia em que márcia foi pedida em casamento. Hoje, os noivos estão “casados” na cabine do caminhão (Foto: Arquivo Pessoal)
O modelo DAF pintado de cor tão incomum para um caminhão agora leva o mote do Outubro Rosa, isto é, alertar mulheres e a sociedade para prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama e de colo do útero. Márcia conheceu de perto essa batalha.
“Em 2018 eu ainda era técnica de enfermagem. Fiz meus exames de rotina que acusaram um nódulo no peito esquerdo. Quando peguei a tomografia mamária, era um tumor de fato. Mas não quis saber de me cuidar, vivia um momento muito difícil, estava depressiva e infeliz com um relacionamento abusivo que graças à Deus acabou terminando”, comentou.
“Optei por esconder a doença da família, dos amigos, mas principalmente de mim. Passados dois anos, aquilo já tinha crescido a um ponto em que eu não conseguia mais levantar o braço. Na época, eu já estava com Juliano. A mãe dele buscou o melhor médico oncologista de Campo Grande pra mim. Fui cuidada”, relembra.
Márcia e Juliano se conheceram pelas andanças na estrada, e desde então nunca mais se desgrudaram (Foto: Arquivo Pessoal)
Toda essa história coincidiu quando o casal foi buscar o caminhão rosa novinho em folha de fábrica. Juliano, Márcia e ‘sogrinha’ foram de avião e voltaram já inaugurando o volante. Quando chegou na Capital de MS, a gaúcha já tinha médico agendado pela sogra, que “segurou a peteca” para o bem da nora.
“O médico falou que eu teria que passar pela quimioterapia. Fiquei assustada, com medo de ficar presa naquela sala fria, e insegura de perder todo o meu cabelo. No outro dia, fui na igreja e pedi a Deus para que tudo passasse logo. Uma mulher desconhecida sentou ao meu lado, orou comigo, e me disse: “algum dia eu te deixei só?”. Era a intercessão de Deus ali. Quando fiz a biópsia e recebi o resultado, o tal do tumor tinha virado um cisto. Foi um milagre”.
Clique no dia em que o casal fez a retirada do caminhão rosa na fábrica (Foto: Arquivo Pessoal)
Na hora certa – Márcia já sonhava em ter um caminhão cor de rosa, mas que agora também carrega esse símbolo de luta e força que – para ela – todas as mulheres são capazes de ter.
“Na minha vida, tudo é para glorificar o nome de Deus. Por misericórdia, mulheres, se cuidem! Não é para esperar nunca, como eu acabei fazendo. Tive fé, mas também tive sorte. A saúde da gente deve ser sempre em primeiro lugar”.
Morando na casa sobre rodas, o casal informa, dá orientação e também “veste a camisa” – literalmente – do Outubro Rosa. Para Juliano, os trajetos longos, cansativos e solitários deram cabo ao amor que nutriu desde a primeira vez que viu a mulher.
Márcia já sonhava em ter um caminhão da cor, e o rapaz acompanhou a amada (Foto: Arquivo Pessoal)
“Essa gauchinha me encantou, mesma profissão que a minha, mulher bonita, elegante e cheirosa, não tinha como eu não me apaixonar. Eu era largado e muito aventureiro, agora sou outro cara, mudei muito com ela e por ela”, admitiu o noivo.
“É bom demais ter ela junto. Antigamente, era uma vida complicada. Agora, um cuida do outro. Eu tenho a pessoa em que posso confiar, que compartilho a viagem, o trabalho, a vida”.
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