Mais uma vez Mato Grosso do Sul se destaca no ranking nacional. Desta vez é no setor de políticas públicas para a saúde da mulher, mais especificamente na área de planejamento familiar. No último levantamento do SUS – Sistema Único de Saúde (divulgado no final de 2019), o Estado foi o que mais conseguiu fazer a inserção de contraceptivos reversíveis de longa duração pós-parto e pós-aborto –conhecidos como FARC -, instrumentos que garantem às famílias o direito de escolher o momento adequado para ter mais filhos.
Desde 1996 está prevista na Lei nº9.263 (que trata do planejamento familiar) o acesso gratuito aos métodos anticoncepcionais de barreira, hormonais e dispositivo intrauterino DIU. Mato Grosso do Sul obteve taxa de 22% de inserção (o segundo lugar é Pernambuco, com 16%), demonstrando com isto o fortalecimento das estratégias de atenção à saúde preventiva e de reprodução, desenvolvidas pela Gerência de Saúde da Mulher, órgão da Secretaria de Saúde do Estado.
Um dos protagonistas deste ótimo desempenho é o HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) que, de acordo com a ginecologista e obstetra Vanessa Chaves, “abraçou a causa” e tem um dos maiores índices de inserção. Segundo ela, comparado a outros métodos, a inserção precoce do contraceptivo pós-parto e pós-aborto tem várias vantagens: fornece contracepção imediata sem interferir com a amamentação, evita o desconforto relacionado à inserção e garante a certeza de que a paciente não está gestante.
Além da distribuição do DIU de cobre, fornecido pelo Ministério da Saúde, MS é um dos poucos estados que fornece para a rede pública de saúde outros dois importantes contraceptivos reversíveis: o Mirena e o Implanor. O primeiro tem indicações específicas: pacientes com diabetes, obesidade, pressão alta, ou qualquer fator de risco para futura gestação. O segundo é indicado para pacientes com alta vulnerabilidade social, como usuários de drogas e adolescentes.
Estado investe na compra, distribuição e treinamento de médicos
De acordo com relatório da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica Básica e Estratégica da Secretaria de Estado de Saúde (SES), entre 2017 e 2019 o Governo do Estado investiu R$ 1.530,453 (Hum milhão quinhentos e trinta mil, quatrocentos e cinquenta e três reais) na compra do Mirena (1970 unidades) e R$ 895.765,52 (Oitocentos e noventa e cinco mil, setecentos e sessenta e cinco reais e cinquenta e dois centavos) na compra do Implanor ((1687 unidades). Ambos são fornecidos pela SES a hospitais da rede pública do Estado.
Em iniciativa do Governo do MS, através do Núcleo de Saúde da Mulher, em parceria com o HU (Hospital Universitário), são oferecidos treinamentos para profissionais do interior do Estado. Este atendimento é quase que individualizado, já que é feito com dois ou três médicos de cada vez. Segundo a doutora Vanessa, é necessário que os médicos acreditem no método de planejamento familiar. “Somos nós que temos de oferecer esta opção à paciente”, explica.
A sugestão do contraceptivo na maioria das vezes é feita na hora do parto, já que nem todas as pacientes fazem as consultas regulares durante a gestação. Mas a abordagem é ainda mais eficiente quando acontece durante o pré-natal. Quanto maior o entendimento, menor é o risco de desistência, como explica Vanessa. “O índice de arrependimento é pouco, mas acontece”, diz a médica, lembrando de uma paciente de 15 anos, com três filhos, sem companheiro fixo, que mudou de ideia um dia depois de ter consentido a colocação do DIU. “É uma pena, mas nós não podemos obrigar ninguém a fazer uso de contraceptivo, apenas sugerimos”, observa, acrescentando que trata-se exclusivamente de uma escolha pessoal.
A vantagem de ser reversível
Até 1996, de acordo com a Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, a maioria dos pacientes e médicos preferiam a laqueadura tubária e a pílula (40% e 21%, respectivamente) como métodos contraceptivos. Estas escolhas se davam, em grande parte, por preconceito contra os dispositivos, alegando-se que causavam câncer e infecções. “Felizmente estes conceitos caíram por terra”, comemora a médica do HR.
Defensora dos contraceptivos reversíveis pós-parto e pós-aborto, a ginecologista explica que eles são tão eficientes quanto a laqueadura, com a vantagem de serem reversíveis. Ou seja, a mulher pode planejar sua retirada quando desejar outra gravidez. “É isto que chamamos de planejamento familiar”, destaca.
O DIU de cobre (fornecido pelo SUS) tem duração de 10 anos; o Mirena tem duração de cinco anos; e o Implanom (dispositivo intra dérmico), com duração de três anos. A inserção pós-placentária de dispositivo intrauterino (DIU) é uma opção segura, oportuna e eficaz para a contracepção pós-parto. A inserção é feita após 15 minutos do parto vaginal ou cesárea.
Com um bebê de 30 dias no colo, Rafaela Karolina dos Santos, 20 anos, optou pelo DIU pós-parto. Além de não querer mais filhos, decisão, segundo ela, tomada em conjunto com o marido, Rafaela teve uma gravidez de risco. A pressão alta levou a um quadro de pré-eclâmpsia. Se decisão de não engravidar novamente por definitiva, ela poderá trocar o DIU depois de nove anos.
Andressa Samaia Santos, 22 anos, está usando o Mirela há dois meses e com 45 dias de uso fez ultrassom para conferir se está tudo bem. O acompanhamento foi feito no próprio HRMS. A opção pelo dispositivo, segundo Andressa, foi sugerida pela médica que fez o pré-natal. “Remédio a gente acaba esquecendo de tomar”, admite
Theresa Hilcar – Subsecretaria de Comunicação (Subcom)
Fotos: Saul Schramm