O incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na noite desse domingo, dia 02/09/2018, nos faz certificar de uma das faces mais negras das gestões de nosso país. História, Cultura, Ciência, assim com a Educação, são relegadas a um plano inferior de prioridades.
Agora será procurado o “pai da criança”, de quem é a culpa pelo incêndio, as primeiras vítimas já apareceram, os bombeiros e a CEDAE, falta de água e falhas de logística. Como se os bombeiros e os técnicos da CEDAE fossem responsáveis pela gestão dos dois órgãos, principalmente dos recursos financeiros.
O pessoal do próprio Museu, que há anos, gestões e gestões passando, tem que fazer mágica para ainda poder oferecer um mínimo de condições para que as pessoas pudessem conhecer um pouco da nossa história, além de materiais que ultrapassavam nossas fronteiras, como múmias egípcias, adquiridas ainda no tempo do Império.
O que sobrou? O que conseguiu ser salvo? Ainda demorará um tempo para que essas respostas apareçam.
Temos um dito popular que diz que não adianta chorar o leite derramado. Esse é o caso do Museu Nacional. O que se perdeu é praticamente, na sua totalidade, irrecuperável.
Pode-se recuperar algo, pode-se criar réplicas, mas a verdade é dura, a maioria que se perdeu, não se recuperará, se perdeu em meio as chamas, que agora hão de querer saber por que começaram.
Pouco importa porque começaram, o fato é que destruíram um patrimônio, tanto cultural, como natural, incomensurável, seja no seu valor financeiro, como histórico ou científico, acabou!
A culpa não é de um só governo, de um só governante, mas de muitos deles, pois o Museu já clamava por socorro há muito, e os abnegados que trabalhavam, seja em pesquisa, seja em manutenção/recuperação, seja em organização, já alertavam dos riscos e situações graves que surgiam continuamente ali.
Mas a velha desculpa governamental da falta de recursos sempre prevalece, nunca se tem dinheiro para nada, e quando vemos escândalos como da Petrobrás, Mensalões, Correios, fundos de pensões, pra lembrar os mais recentes, sem falar nos Coroa-Brastel, Sanguessugas, Anões, percebemos que o problema real não é a falta de dinheiro, mas o que é feito com o dinheiro que se tem.
O BNDES, em sua caixa preta, dizem que quando for escancarado, tudo o que já vimos, será somente caixinha. Em uma série de reportagens do Estadão, em 2017 (https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/o-rombo-no-bndes-com-as-obras-no-exterior/), os recursos conhecidos, destinados a obras e financiamentos a outros e em outros países, desde de 1998, foram parcialmente apresentados, sem sobra de dúvidas, sem medo de errar, em 140 obras realizadas no exterior ultrapassa a 50 bilhões de reais, conforme reportagem da Folha de São Paulo, de 2016 (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/06/1777284-financiamento-do-bndes-as-obras-no-exterior-e-maior-do-que-o-feito-no-pais.shtml)
Como disse, isso é só o que começou-se a apurar, o que dá uma noção de onde podem chegar os valores. Vale dizer que em junho deste ano, o Banco destinou 28 milhões de reais para a revitalização do Museu, porém, devido aos entraves burocráticos, esse recurso ainda não estava liberado para utilização, e agora? Será que esse recurso poderá cobrir a reconstrução do Museu, a parte física, pois o valor das obras e materiais jamais poderão ser recuperadas.
Enfim, é desoladora a situação da cultura e da ciência em nosso país, ainda que em época de campanha eleitoral, ganhem destaque nos discursos e pronunciamentos, na prática a coisa funciona de outro modo.
Dias atrás estive em Corumbá/MS, e parei em frente ao MUHPAN, Museu de História do Pantanal, e me entristeci enormemente, pois tive o prazer de conhecê-lo antes mesmo da inauguração oficial, e observei desta vez somente a fachada, com vidros das janelas quebrados, portas já com princípio de danos, e se nada for feito, em breve, infelizmente, estará em condições semelhantes as do Museu Nacional. Vale dizer que o MUHPAN, é incrível, coisa de “primeiro mundo”, e que vale a visita.
Infelizmente, em Aquidauana, onde moro, temos dois museus, um que está instalado no 9º BEComb, e é administrado pelo Exército, que recentemente recebeu uma reforma, e está interessantíssimo, mesmo sendo pequeno. Ele conta parte da participação do Exército Brasileiro pela região, desde a guerra do Paraguai, até as missões de paz na África e Haiti.
O outro museu, o de Arte Pantaneira, administrado pela Prefeitura Municipal, infelizmente, há algum tempo, fechado, portanto não sabemos em quais condições.
E assim vamos seguindo, após cada tragédia, vamos tentando apagar fogo, nunca nos prevenindo dele. Nossa triste realidade, somos, a cada dia, a cada novo incidente, um país com menos história, com menos ciência, com menos educação, o que será que o futuro nos reserva, pois o presente e o passado são desoladores nessas áreas.
O Pantaneiro