Receber o diagnóstico de câncer de mama foi um baque para a administradora de empresas Elaine Lourenço da Silva, de 54 anos. Ainda assim, não foi pior do que a notícia de que perderia os cabelos durante a quimioterapia. Para superar o trauma, a sorocabana descobriu uma maneira de diminuir a queda dos fios durante o tratamento.
Implantada primeiramente na Europa há mais de 25 anos, a crioterapia capilar só foi aprovada nos Estados Unidos em 2016 e chegou ao Brasil no ano seguinte. Sorocaba é a única cidade do interior do Estado de São Paulo a oferecer o tratamento.
Assim que descobriu o câncer na mama esquerda, em março do ano passado, Elaine fez a cirurgia para a retirada do tumor e, três meses depois, deu início à quimioterapia com resfriamento do couro cabeludo.
“Quando falaram de raspar a cabeça, eu chorei muito, mas agora o meu cabelo está firme e forte”, conta a administradora, que já fez mais de 12 sessões do tratamento.
A oncologista Cláudia Grandino Latorre Palma, de uma clínica localizada no Jardim Santa Rosália, conta que o equipamento foi adquirido no Reino Unido por cerca de R$ 300 mil e é oferecido gratuitamente aos pacientes que fazem quimioterapia no local. Dependendo do caso, o procedimento tem de 50 a 90% de eficácia e ajuda a levantar a autoestima dos pacientes.
Como funciona
Durante a crioterapia capilar, o paciente veste uma touca de silicone conectada a uma máquina que resfria o couro cabeludo a temperaturas entre 18 e 22ºC. “O líquido se espalha pela touca, diminuindo a circulação de sangue e o contato do cabelo com os produtos da quimioterapia”, explica Cláudia.
A touca é colocada cerca de 45 minutos antes e não pode ser retirada até uma hora e meia depois do procedimento. Em geral, a aplicação leva de três a seis horas e as sessões são realizadas a cada 15, 21 ou 28 dias.
Antes da sessão, o paciente precisa tomar alguns cuidados, como cortar o cabelo na altura dos ombros e lavá-lo duas vezes por semana (sempre nos dias anteriores às sessões), utilizando os produtos corretos e uma escova macia. Secadores e tinturas podem comprometer o tratamento.
Durante a aplicação do produto, algumas pessoas costumam sentir dores de cabeça e tonturas, que podem ser contornadas com analgésicos. Além disso, é recomendado que os pacientes levem cobertores e roupas de frio para se aquecerem, como blusas, calças e luvas.
‘Marca registrada’
A cuidadora de crianças especiais Maria da Graça Leite Kobayakawa, de 57 anos, descobriu o câncer na mama direita em fevereiro do ano passado, durante um exame de rotina. Sem desanimar, partiu para a cirurgia de retirada do nódulo e, em seguida, para a quimioterapia com crioterapia. Até agora, já foram quatro sessões.
“No momento, fiquei sem reação, não chorei, porque nunca ninguém teve na minha família, mas precisei encarar e começar a me tratar. A parte mais difícil foi falar para a minha família, sempre me mantive firme na frente deles. Quem me olha hoje não fala que eu estou fazendo quimioterapia. Quando o cabelo cai, você fica com uma marca registrada e as pessoas te olham com dó”, conta.
Para a escrevente Adriana de Fátima Pinheiros Denega, de 46 anos, a queda de cabelo também causou mais pavor do que o câncer de ovário em si, descoberto em fevereiro deste ano.
Assim como Elaine e Maria da Graça, a sorocabana precisou do tratamento oncológico para evitar complicações após a cirurgia e optou pelo resfriamento do couro cabeludo. Até agora, Adriana fez duas sessões e, apesar das dores de cabeça, já sentiu o resultado.
“Vale muito a pena. Não é só pela estética, é poder acordar e olhar no espelho todos os dias sem lembrar da doença, poder andar na rua sem despertar curiosidade”, diz.
Pouco conhecido
Apesar de ser mais comum entre as mulheres, a crioterapia capilar também é recomendada para homens com câncer de próstata e pulmão. Por inibir a absorção das drogas no couro cabeludo, não é indicada para os tipos de câncer hematológicos ou para alergias ao frio.
A empresa que fabrica o sistema diz que ele é usado em 64 países, mas, no Brasil, ainda é pouco conhecido.
Em uma das clínicas de Sorocaba, cerca de 20 pacientes fazem o tratamento oncológico com crioterapia capilar hoje. São, em média, 200 sessões por mês, acompanhadas por oito médicos especialistas. G1