Há quase 30 anos, ainda longe de se tornar símbolo do boom de musicais no Brasil, Claudia Raia tinha pouco dinheiro e nenhum patrocínio para “Não fuja da Raia” (1991), seu primeiro grande espetáculo do tipo.
“Precisava de três metros de veludo para fazer um dos meus vestidos. Fui na 25 de Março [rua de comércio popular em São Paulo] e me ajoelhei aos pés do dono da loja”, lembra a atriz ao G1. Hoje, ela colhe os frutos do que chama de “um mercado consolidado”.
Fico feliz em ver que as pessoas assimilaram uma coisa que eu fui uma das primeiras a falar. Não é possível que o Brasil seja um país tão musical e a gente não consiga fazer musicais.”
Desde “Não fuja”, escrito por Sílvio de Abreu e mais tarde transformado em programa de TV na Globo, Raia viu crescer a sofisticação e a oferta – antes escassa – de profissionais do ramo.
Escolas especializadas em formar artistas para esse tipo de montagem surgiram no Brasil e já preparam até crianças. “Hoje há 10, 12, 15 musicais em cartaz ao mesmo tempo e há elenco para isso, há músicos, técnicos”, comemora a atriz.
“Claro que ainda não temos o know-how dos americanos, que estão 150 anos à nossa frente, mas estamos correndo atrás.”
Seu plano agora é investir em uma comédia musical para os cinemas, na qual fará um papel duplo – é a única coisa que revela sobre a história. Não há previsão de estreia. Ela está lendo a segunda versão do roteiro.
Enquanto isso, dedica-se ao seu projeto mais recente, a nova temporada de “Chaplin, o musical”, em cartaz até 29 de julho no Theatro Net, em São Paulo. Jarbas Homem de Mello, marido da atriz, protagozina a história sobre o ícone do cinema. Ela produz a peça.
“O Carlitos [personagem criado por Chaplin] é muito mais conhecido do que a vida dele. Então uma das coisas mais legais do espetáculo é que a plateia se surpreende com a história. Há particularidades que as pessoas não sabem”, afirma.
Apesar de mais reconhecida em cima dos palcos, Raia têm experiência vasta nos bastidores. Produziu em 1989 sua primeira peça, “A pequena loja de horrores”, também um musical.
Ela diz que a função afeta diretamente seu trabalho como atriz. “Quando estou fazendo novela, por exemplo, ajo como uma produtora, fico assim: ‘Gente, olha o horário, temos que terminar esse plano hoje, senão tem que pagar os figurantes amanhã”, explica rindo.
“Todo ator deveria passar pelos corredores da produção e da direção.”
‘Esqueço que sou mulher’
Claudia é mãe de Enzo, 21, e Sophia, 15, do casamento com o ator Edson Celulari. Ela conta que o feminismo sempre foi um elemento na educação dos filhos. “Não tem como ser diferente, afinal eles têm uma mãe como eu”. No trabalho, sua forma de exercer a causa é outra:
“Na hora em que eu abro a porta de um patrocinador para pedir alguma coisa ou contar um sonho meu, esqueço que sou mulher.”
“Ouço as seguintes frases: ‘Nem precisa me dizer o que você trouxe, se é seu eu sei que tem qualidade’. E eu sou uma mulher”, completa.
Pena que nem todas podem ter os privilégios de Claudia Raia. Ela própria reconhece: “É um caminho longo, que estamos começando a percorrer.” G1