Descobertas recentes feitas por pesquisadores no Brasil e no mundo prometem melhorar tratamentos de combate ao câncer e aumentar as chances de cura dos pacientes. O G1 reuniu alguns estudos publicados recentemente que mostram o avanço nas pesquisas e que vão desde uma vacina que pode acabar com tumores até a diminuição dos efeitos colaterais da quimioterapia.
Veja abaixo alguns estudos publicados recentemente:
1. Vacina contra o câncer
Uma vacina desenvolvida no Laboratório Nacional de Biociências, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), estimula o sistema imunológico a combater o câncer. Os primeiros resultados em camundongos foram surpreendentes e em alguns animais o tumor foi eliminado completamente.
O estudo: A vacina usa células tumorais do próprio indivíduo que receberá o tratamento e secreta citocina GM-CSF, que estimula a proliferação e a maturação de diferentes tipos de células de defesa, para evitar que as células tumorais se multipliquem descontroladamente no organismo.
Na prática: A vacina foi testada em camundongos e na próxima etapa será testada em amostras provenientes de cirurgias com pacientes para analisar o desempenho in vitro. Se tudo der certo, a vacina pode chegar ao mercado dentro de alguns anos.
“Nossos estudos demonstraram a possibilidade de curar o câncer em experimentos com animais. Além disso, uma observação interessante foi que animais curados e redesafiados com novos tumores apresentaram uma resposta duradoura, sugerindo-se o desenvolvimento de uma memória imunológica antitumoral”, disse o pesquisador Marcio Chaim Bajgelman, que coordena o estudo no Laboratório Nacional de Biociências, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que tem sede em Campinas (SP).
2. Atlas da origem do câncer
Cientistas da Universidade de Santa Cruz, na Califórnia, descobriram que cânceres que começam em diferentes órgãos podem ter a mesma origem celular e criaram um “atlas” da origem do câncer.
O estudo: Foram analisados 33 diferentes tipos de tumor em 10 mil pacientes. Todos os 33 tipos foram reclassificados em 28 tipos moleculares. Dois terços destes foram considerados heterogêneos porque continham até 25 tipos histológicos, que tradicionalmente seriam tratados de maneira diferente.
Na prática: Sabendo da origem molecular do tipo de câncer, tratamentos para um tipo de câncer poderão ser estudados para beneficiar pessoas que têm outros tipos, porém de mesma origem molecular.3. Quimioterapia sem dor
Com frequência, pacientes que fazem quimioterapia sofrem com efeitos colaterais como dores musculares, formigamento nos pés e nas mãos e queimação. Em março, pesquisadores da Universidade de Saint Louis, nos EUA, divulgaram que conseguiram com sucesso eliminar a dor do tratamento de quimioterapia para câncer colorretal em um modelo animal.
O estudo: Os pesquisadores analisaram o remédio oxaliplatina, comumente usado no tratamento de câncer colorretal, e descobriram como o remédio pode causar dor até mesmo anos depois do fim do tratamento. A dor está associada à enzima adenosina quinase em astrócitos (um tipo de célula do sistema nervoso central) e à diminuição da sinalização de adenosina em um receptor chave, A3AR. Os pesquisadores conseguiram bloquear o desenvolvimento dos efeitos colaterais do remédio sem interferir nas propriedades anticancerígenas do medicamento.
Na prática: O estudo mostra que pode ser possível combinar o uso da oxaliplatina com outros remédios durante o tratamento. Atualmente, já existe um estudo em andamento para analisar os agonistas (drogas que atuam em receptores e causam um aumento ou uma diminuição na sua atividade) do A3AR como novo agente anticancerígeno.
4. Tratamento melhor para câncer de próstata
Câncer de próstata é o segundo câncer mais comum em homens e a quinta causa de morte mais comum entre eles no mundo, segundo dados de 2012 da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Apesar de diversos tratamentos estarem disponíveis para os pacientes, alguns homens não respondem às principais opções disponíveis. Pensando neste grupo, pesquisadores da Universidade de Toronto, no Canadá, desenvolveram uma biópsia através de uma amostra de sangue que revela, antes mesmo de o tratamento começar, quem não responderá a ele.
O estudo: A partir da amostra de sangue, os cientistas identificaram as células tumorais e analisavam se elas tinham algum marcador indicativo de que seriam resistentes a tratamentos específicos. Foram analisados pacientes com câncer de próstata em metástase.
Na prática: Segundo os pesquisadores, a biópsia feita com a amostra de sangue não tem custo, é rápida e precisa. Agora, eles irão replicar o estudo com mais pacientes e já pensam em testar a aplicação da tecnologia em outros tipos de câncer e até em outras doenças.
Segundo o médico urologista Cláudio Murta, coordenador do Centro de Referência da Saúde do Homem do Estado de São Paulo, o impacto do estudo será grande pois permitirá aos médicos “a utilização de meios menos invasivos para individualização do melhor tratamento ao paciente”. Além disso, o estudo demonstra que as biópsias líquidas para câncer de próstata podem ser aplicadas clinicamente em um futuro próximo, afirma ele.
5. Células T combatem câncer de fígado
Pesquisadores da Universidade de Augusta, nos EUA, testaram camundongos criados em laboratório para responder a um antígeno comumente encontrado em câncer de fígado em humanos. Algumas células T dos camundongos conseguiram identificar as células cancerígenas e matá-las.
As células T são responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos (antígenos) que tomam conta das células, como vírus, bactérias e o câncer. São elas que regulam o funcionamento do sistema imunológico.
O estudo: Depois do teste feito com camundongos, os cientistas testaram as células T em tecido humano in vitro. Eles usaram os genes de receptores de antígeno mais eficazes nessas células T, as colocaram em células T humanas e também em células humanas o câncer foi erradicado sem alterar as células normais do fígado.
Na prática: Os cientistas já firmaram parceria para testar o uso destas células T em tecidos humanos saudáveis e com câncer de fígado. Se as células produzirem uma boa resposta ao câncer e não atacarem também as células saudáveis, o estudo poderá ser testado clinicamente.Midiamax