A mãe de uma adolescente negra de 13 anos procurou a polícia em Jaú (SP) após a adolescente ter sido ofendida nas redes sociais. Um boletim de ocorrência de injúria foi registrado e a polícia deve investigar o caso, que também será acompanhado pelo Conselho Tutelar e a Comissão de Direitos Humanos da OAB de Jaú.
As ofensas e críticas foram motivadas por uma postagem da adolescente em seu perfil no Facebook que trazia uma foto dela com um cartaz escrito: “Somos as netas das ‘negras’ que vocês não conseguiram matar”.
Na postagem, a jovem ainda escreveu: “Não sou descendente de escravos. Eu sou descendente de seres humanos que foram escravizados.”
Na ocasião em que a foto foi tirada, a jovem participava de um ato em São Paulo em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.
Os comentários criticam a frase questionando se houve genocídio de negros no Brasil e outros afirmam não terem culpa hoje pela época da escravidão no país. Algumas pessoas chegam até a xingar a adolescente.
“Na sexta-feira, voltamos para Jaú e ela postou essa foto. Depois começaram a compartilhar a mensagem dela com comentários maldosos, como se ela tivesse feito isso para ofender alguém, acusando alguém. Ela ficou muito assustada a repercussão”, conta a mãe da adolescente, Luana da Silva França.
Luana conta que a filha não conhece a maioria das pessoas que comentou e compartilhou a postagem.
“Não sabemos quem é, e isso é mais triste. Eles não sabem o significado daquelas palavras para a gente. Nós perdemos há pouco tempo a minha avó, que era neta de escravos, então aquela frase tem muito significado para gente, a gente se identifica nisso, eu e a minha filha, nossa família.”
A postagem original tem mais de 180 compartilhamentos, 160 comentários e mais de 280 reações. No entanto, muitas pessoas fizeram comentários nos compartilhamentos feitos em outros perfis na rede social, no entanto boa parte das mensagens foi apagada.
A adolescente também tornou a postagem visível apenas para os amigos após os fatos. “Ela nunca tinha passado por uma situação dessa, ainda bem que temos uma estrutura familiar forte e pessoas que estão nos apoiando, porque esse tipo de coisa não deve passar impune”, destaca Luana.
Ainda de acordo com a família, inicialmente foi registrado um boletim de ocorrência de injúria, mas, no decorrer das investigações e apresentação das provas, o caso pode ser enquadrado como racismo.
“Na sexta-feira teremos que voltar na delegacia com as provas, os prints que fizemos dos comentários para ser aberto o inquérito”, explica a tia-avó da adolescente, Lilian Pires, que é ativista social e representante do Coletivo Raízes do Baobá, grupo social que atua na luta pelos direitos dos negros e contra a discriminação. G1