Foram 2,3 mil quilômetros, sete dias de viagem, sendo seis de barco e R$ 3 mil gastos no percurso. O tempo, cansaço e o dinheiro investido impulsionaram a vontade do professor de psicologia Jorge Moraes, de 62 anos, que saiu de Belém, no Pará, a Boa Vista para doar 200 Kg de alimentos para crianças venezuelanas desnutridas.
Parte dos mantimentos foram distribuídos nesta quarta-feira (7) na capital. O professor disse ter interrompido as férias para ajudar os imigrantes.
“Foram sete dias viajando. De barco foram seis e de ônibus um. Foi cansativo, mas fiz com prazer porque sei da situação dos venezuelanos que chegam a Roraima. Vi crianças na televisão passando fome, e isso me comoveu”, declara o professor que leciona na Universidade Federal do Pará há 30 anos.
A viagem começou na quarta (28) e terminou nessa terça (6). De Belém, onde mora, a Manaus o professor viajou 1,606 Km por seis dias em um barco.
Na bagagem os 200 kg de alimentos estavam divididos entre leite em pó, farinha láctea e aveia. Da capital do Amazonas a Boa Vista foram mais 800 Km de ônibus.
Para juntar os alimentos, o professor disse que pediu apoio de alunos e amigos de Belém. Uma quantidade dos mantimentos foram doadas às famílias venezuelanas que moram em Boa Vista e têm crianças que apresentam desnutrição e vulnerabilidade.
“Entendi que isso seria uma pequena contribuição para as crianças venezuelanas que estão em situação grave de desnutrição”, diz.
Outra parte dos produtos foram entregues para voluntários que realizam ações humanitárias com venezuelanos na capital.
“Eles deram os mantimentos em praças e abrigos. Acompanhei tudo e o que vi é lamentável a situação”, analisa.
Roraima lida desde 2015 com a chegada desenfreada de venezuelanos, que estão deixando o país vizinho para escapar da crise política, econômica e social. Eles entram no Brasil em busca de emprego e comida. Só nos primeiros 45 dias de 2018 mais de 18 mil venezuelanos solicitaram permissão para entrar no país.
De acordo com dados da prefeitura de Boa Vista, 40 mil venezuelanos vivem hoje na cidade, o que representa mais de 10% dos 330 mil habitantes da capital.
Atuação com direitos humanos
O professor disse ter sido fundador da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia e também do Conselho Estadual da Defesa da Criança e Adolescente do Estado do Pará e isso contribuiu para que ele tivesse um olhar de solidariedade em relação à migração venezuelana.
“A história de luta pelos direitos humanos me mobilizou quando vi pela televisão a situação dramática das crianças expostas em praças públicas”, observa o professor.
Para ele, as condições indignas que vivem as crianças junto com os pais é ‘uma vergonha para a sociedade roraimense’.
“É inadmissível o que vi na praça Símon Bolívar [zona Oeste da cidade]. Não sei como uma sociedade consegue conviver com essa situação e não fazer nada para melhorar. Crianças na situação mais degradante, contrariando as leis desse país. É uma indignação”, afirma.
“Vim sozinho e pretendo ir embora sexta-feira [9]. Interrompi minhas férias para fazer essa ação. Vou continuar me mobilizando para recolher mais alimentos e tentar enviar pela FAB [Força Aérea Brasileira]. Tenho contatos com pessoas em Roraima que já ajudam os venezuelanos e isso facilitou para mim quando cheguei a Boa Vista”, conta.
As doações dos alimentos devem ocorrer ainda nesta quinta-feira (8) em outros pontos onde vivem venezuelanos em Boa Vista. G1