
Quase 90 anos depois, pouca gente se lembra do crime traiçoeiro que resultou em lápide atípica no cemitério – (Fotos: Arquivo Pessoal)
Logo na entrada do Cemitério Municipal de Porto Murtinho, cidade localizada na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, um túmulo discreto, carregado de história, passa praticamente despercebido pelos visitantes há quase um século.
Sem qualquer luxo, a construção conta com uma lápide improvável que destaca um crime ocorrido em 1938.
Além de exibir o nome do falecido, a placa póstuma ainda revela que ele foi morto de forma traiçoeira e informa o nome do assassino em letras garrafais – algo pouco comum em registros históricos no Brasil.

Sepultura passa despercebida entre as mais antigas do cemitério municipal – (Foto: Arquivo Pessoal)
O túmulo em questão pertence ao jovem Rubval Theodoro Júnior, de apenas 16 anos. Na sepultura, chamam atenção os dizerem gravados a mando da própria família.
“Aqui jaz os restos mortais do jovem Rubval Theodoro Júnior, nascido a 28 de junho de 1922, assassinado traiçoeiramente por Sebastião Franco da Rocha, no dia 29 de novembro de 1938. Seus pais e irmãos lhe dedicam esta lembrança”, frisa a mensagem.

Oito décadas deterioraram pouco túmulo que tem nome de assassino em MS – (Foto: Arquivo Pessoal)
O tempo apagou história por trás do túmulo?
De arquitetura simples e pintada de branco, a estrutura permanece intacta, com poucos sinais de desgaste diante de quase 90 anos exposta a sol, chuva e até às enchentes que inundaram a cidade no final do século 20. Contudo, o tempo apagou, em partes, a história por trás do sepulcro.
É que hoje, nem os mais antigos de Porto Murtinho se lembram quem foi o jovem Rubval Theodoro Júnior e seu assassino, Sebastião Franco da Rocha. Questionados se sabem o que aconteceu com o rapaz, moradores quase centenários declaram nem saber da existência da curiosa sepultura.
Assim, os curiosos que forçam a vista para ler as letras quase ocultas pelo passar dos anos se perguntam:
Quem foi Rubval? Como Sebastião o assassinou traiçoeiramente? Quais as circunstâncias e motivações do crime? Quem era Sebastião e qual relação os dois tinham? Por que a família decidiu gravar e destacar o nome do assassino na lápide da vítima? De onde efetivamente era essa família? E os irmãos de Rubval, onde foram parar?
Estas são questões que historiadores e familiares que eventualmente conheçam a história podem ajudar a responder. Sabe de algo? Envie para nossa reportagem através do link de WhatsApp no final deste texto.

Dê zoom para ler a placa póstuma – (Foto: Arquivo Pessoal)
Por que gravar o nome do assassino na lápide?
Embora não seja uma prática comum ou universal, quando ocorre, a gravação de nomes de assassinos nas lápides das vítimas geralmente está ligada a motivações profundas.
Entre elas, uma espécie de vingança simbólica, na qual esta seria uma maneira de “marcar” o assassino para sempre, associando seu nome de forma pública e duradoura ao crime.
A honra à vítima também costuma estar atrelada a esse tipo de postura, especialmente quando a morte ocorre de forma violenta, injusta ou traiçoeira, como no caso de Rubval.
Também seria uma espécie de aviso à população sobre o perigo do criminoso. E, por fim, a busca por justiça e memória, fazendo a lápide ser um registro permanente sobre o crime, como forma de protesto e pressão para a condenação dos autores.

Em alguns casos, as famílias gravavam os nomes dos assassinos nas lápides das vítimas para eternizar a memória do crime, buscar justiça e garantir que a história e a identidade do responsável não fossem esquecidas.
No Brasil, entre os séculos 18 e 20, era comum encontrar escrituras destacando a natureza de determinadas mortes em mensagens sentimentais nas sepulturas.
Contudo, casos de lápides de vítimas com nome do assassino são raríssimos no Brasil e este exemplo em Mato Grosso do Sul se destaca entre os poucos já registrados.

Cemitério Municipal de Porto Murtinho – (Foto: Arquivo Pessoal)






