O conhecido Natal Gomes de Pinho, de 79 anos, o “Natal Piloto”, que estava em sua propriedade rural, localizada a poucos quilômetros de Cassilândia, faleceu nesta tarde, ao ser atacado por uma vaca com bezerro recém-nascido.
Natal Gomes era casado com Valdetrina Pinho e deixa dois filhos: o advogado Carlos e o cirurgião-dentista Sérgio, além de netos e bisnetos.
A reportagem do Cassilândia Urgente confirmou o óbito agora há instantes na Funerária Unapaz, o corpo está sendo preparado para o velório que ocorrerá na Câmara de Vereadores ainda nesta madrugada e o sepultamento será amanhã, em horário a ser definido, no Cemitério Municipal Valdomiro Pontes.
A História de Natal Gomes de Pinho, o “Natal Piloto”
Natal Gomes de Pìnho é sul-matogrossense de Aparecida do Taboado, nascido em 25 de dezembro de 1937, filho de Jugurta Parreira de Pinho, mais conhecido como Juca Ricardo, lavrador que se tornou depois delegado de polícia durante uns cinco anos, em Paranaíba, para onde Natal foi levado aos 14 anos de idade. Apesar da lida na roça com gado e lavoura, Natal teria pela frente muitos voos em sua vida. Voos, literalmente. Na acepção da palavra.
E foi mesmo lá em Paranaíba que surgiu a sua grande paixão: os aviões. Tanto que passou a trabalhar para o experiente piloto e proprietário de aviões, o senhor Vicente Peralta, sogro do engenheiro Guilherme Hans. É claro que seu Vicente não entregou um de seus aviões a um rapazelho de apenas 14 anos. Natal começou lidando com a parte mecânica, fazia limpeza, ajudava na manutenção e até abastecia as aeronaves.
Tendo grande aptidão, fez o seu primeiro voo no ano de 1951. Mesmo tendo estudado pouco, não lhe foi difícil entender o complexo mecanismo de avião, que, segundo ele, exige muita atenção na decolagem e muita perícia na aterrissagem.
Para conhecer toda a história de Natal Piloto…
Nós vamos deixar para que seu grande amigo Manoel Afonso fale um pouco de sua vida, através de artigo publicado no Cassilândia Jornal, na edição do dia 11 de setembro de 1982. “Apesar de ter conseguido o seu brevê em 1961, no Aeroclube de Guararapes, Natal pilotava desde 1951. Em 1956, quando estava em Três Lagoas trabalhando como piloto, um avião de propriedade de Aníbal Cunha, o motor parou e ele desceu o monomotor na Barra do Sucuriú com o Rio Paraná. Foi o primeiro pouso forçado. Em 1957, retornou a Paranaíba, trabalhando com Vicente Peralta”.
“No ano seguinte”, prosseguiu Manoel Afonso, “veio para Cassilândia, onde trabalhou com Jorcy Barbosa da Silveira, Levino, Faustino, José Pedro, José Rodrigues, Pascoal Tosta, para o saudoso Dequinha e Abel de Paula. Natal lembrou que certa vez, quando voava para Levino Barbosa, foi obrigado a pousar num cerrado perto da fazenda do Tuti Gomes, nas proximidades do Chapadão. Ficou lá vários dias, fez um campo de aviação com ajuda dos peões da fazenda, possibilitando, assim, condições de outro avião descer para prestar socorro.”
E as aventuras do Natal Piloto não param por aí. “Em 1959, o avião exercia papel preponderante em termos de transporte na região, onde não havia estradas. Naquele ano, Natal chegou a estabelecer uma linha diária ligando Cassilândia a Jataí. Também descia nas fazendas da região para apanhar passageiros. O movimento era tanto que ele chegou a fazer o mesmo percurso cinco vezes num só dia. Parece brincadeira, mas o movimento no aeroporto de Cassilândia era intenso naquela época, onde havia uns 14 aviões aqui baseados. Eis os proprietários: Levino, Ataíde de Freitas, Ib de Castro, José Pio, Aníbal Cunha, Quincas do Augusto, Joaquim Martim, Pascoal Tosta, Dequinha e Luís Machado. Em todas as fazendas grandes havia campo de pouso e os pilotos eram convidados para festa de inauguração quando acontecia verdadeira revoada de aviões”.
A matéria prosseguiu, ainda, contando as aventuras e dramas no ar que o Natal Piloto andou vivendo ao longo dos anos; Manoel Afonso também nos trouxe alguns fragmentos para ilustrar ainda mais essa obra. “No dia 13 de maio de 1959, Natal teve que sobrevoar a cidade durante 45 minutos para gastar todo combustível, visto que temia acidente devido a fortes ventos na região. Naquela época, o campo de pouso ficava ali na proximidade onde foi construída a Avenida Cândido Dias, perto das casas da Cohab”.
Depois Manoel citou que “por várias vezes carregou o famoso Camisa de Couro; e quando Waldomiro Gonçalves era deputado federal, Natal vinha de Brasília aquele parlamentar juntamente com o deputado Ubaldo Barém. Quando sobrevoava a região de Morrinhos, em Goiás, a sete mil e quinhentos pés de altura, Waldomiro sentiu-se mal e acabou desmaiando. Natal não se apavorou e conseguiu pousar numa fazenda, onde Waldomiro conseguiu se restabelecer. Em seguida, retornou a Brasília.”
Manoel Afonso terminou, assim, a sua participação na narrativa que trouxe a vida de um grande piloto cassilandense, o nosso Natal.
Natal Piloto contou a este historiador que “aconteceu quando o ator Tony Ramos veio até Cassilândia para apresentar o baile das debutantes. Tony foi a um churrasco oferecido pelo Conceição Barbosa Dias e, devido à hora, Natal foi levá-lo até Rio Preto, em São Paulo, onde iria pela TAM até São Paulo. Quando sobrevoava Tanabi, estourou o cano de admissão. Natal não se perturbou. Apesar da visível preocupação de Tony Ramos, conseguiu chegar até o aeroporto de Rio Preto com o motor praticamente parado. Foram dez minutos de muita perícia”, contou ele.
Segundo Natal Gomes de Pinho, sua última aventura, é que podemos chamá-la, aconteceu perto do canal de São Simão, no Estado de Goiás, na oportunidade em que o motor de seu avião PT-DJV 172, ano 1961, quebrou, e não lhe restou outra coisa senão um pouso forçado. Ele veio no outro avião, enquanto o seu avião ficou por lá durante vários dias, sem condições de voo. O fato aconteceu no dia 17 de janeiro de 1985.
– Natal, se você não fosse um homem calmo, você acredita que estaria vivo e ainda pilotando atualmente? – perguntamos.
– Acredito que não. Calma e experiência são dois fatores que se somam e devem andar ao lado do piloto. O bom piloto tem que ser calmo – disse Natal, com a segurança de quem conhece muito bem o ramo.
Aos 22 anos de idade, ele casou com Valdetrina Pereira Borges, em 1959, sendo filha do senhor Zico Pereira, cognome de Olavo Pereira da Silva, e de dona Isaura Borges da Silva, irmã do seu Tiúca. Nasceram os filhos Carlos Augusto e Sérgio Ricardo. O casamento aconteceu no dia 30 de maio daquele ano aqui mesmo em Cassilândia.
Natal lembrou o acidente ocorrido, em 1959, em que morreu Dequinha, como um dos fatos mais trágicos da história aérea de Cassilândia, afirmando que esteve fora fazendo outro trabalho e havia avisado Dequinha que o avião não oferecia condições ideais para voar, o que acabou não sendo observado pelo proprietário que, assim, teve morte trágica. Ele havia ido a uma festa na prata, o avião deu pane, não conseguiu controlá-lo e ele acabou caindo na cidade, perto da casa do Armando de Freitas, nas proximidades da delegacia velha. No acidente faleceram Dequinha, o Marconil, irmão do Agenor Barbosa, e mais duas pessoas.
Uma outra lembrança que vivia em sua memória era a capoeira pura que tomava conta da cidade, sobretudo, onde hoje está a Rua José Cristino Sobrinho, na qual construiu uma casa, ele nos lembrou da máquina de arroz de seu João Albino Cardoso, onde há muitos anos localizava-se a sua serraria, ali perto da antiga rodoviária e onde hoje está localizada a loja D+, do empresário Josias Assis.
Natal citou também que morou um bom tempo na pensão do José Borba, que estava localizada onde tempos depois funcionou a Nova Casa Portuguesa, de Francisco Farinha, o Chico Português, e onde está sediada a loja A Econômica.
Natal Piloto fez muito por Cassilândia, transportando o nosso progresso e participando ativamente da nossa expansão comercial ao longo de décadas. Tanta ligação com Cassilândia lhe valeu um mandato de vereador, na eleição de 1970. Natal Piloto faz parte da história da Cidade Sorriso. Extraído do livro A História de Cassilândia, de Corino de Alvarenga / Foto extraída da página do Facebook de Carlos Pinho