Principal suspeita de matar o filho Gael de 3 anos, Andréia, de 37, não demonstra estar afetada pelo crime e apresenta sinais de que agrediu o garoto, segundo o boletim de ocorrência registrado no 1º DP (Distrito Policial) de São Paulo.
O crime ocorreu na manhã de segunda-feira (10) no apartamento da família no bairro da Bela Vista, no centro da capital paulista. A criança morreu antes de chegar à Santa Casa de Misericórdia, também na região central.
Segundo o registro policial, o “laudo de atendimento médico” informa que a mãe “não demonstra afeto sobre a possível agressão ao filho”.
“Some-se a isso o fato de que Andréia apresenta marcas em seus braços que sugerem que seu filho, ao ser por ela agredido, tentou defender-se; bem como possui ambas as mãos avermelhadas e inchadas, patenteando que as agressões partiram dela, sendo desferidas em direção principalmente à região da cabeça de seu filho, inclusive marcando-o com o anel por ela utilizado”, traz o boletim de ocorrência divulgado pelo Portal Uol.
O texto ainda afirma que os médicos que atenderam o menino Gael no hospital contaram que ele “chegou frio e com livedos [descoloração da pele], sulfusão [derramamento] hemorrágica na face e sinais de petéquias [manchas avermelhadas ou mais escuras]”.
Já o laudo pericial necroscópico indicou a presença de:
- Hematoma que sugere traumatismo em polo cefálico [cabeça];
- Hematoma em região cervical bilateral [perto do pescoço];
- Diversas petéquias na face, coração, pulmão e em mucosa oral interna do lábio superior, “normalmente relacionadas ao esforço respiratório intenso”.
‘Possíveis maus-tratos’
Ainda segundo o boletim de ocorrência, “os elementos de prova colhidos no local dos fatos e no cadáver da vítima chamam a atenção por indicarem possíveis maus-tratos”.
Haveria marcas de agressão na testa de Gael que coincidem com o formato do anel “que estava sendo utilizado pela autora no momento dos fatos”, conforme “fotos e prints de vídeos registrados pelo médico-legista”.
Encontrada pela polícia em posição fetal debaixo do chuveiro, Andréia foi levada de casa direto para o Hospital Mandaqui, na zona norte, onde recebeu atendimento psicológico por estar “em choque”.
Depois de passar o dia de ontem no hospital, ela foi transferida na madrugada de hoje para a delegacia, onde ficou calada durante depoimento, antes de ser levada para o IML (Instituto Médico Legal) e transferida para o 89º DP, onde está presa.
Depoimento da tia-avó
No depoimento, Andréia estava acompanhada de seu advogado. Além dela, a polícia ouviu cinco testemunhas, incluindo a tia-avó de Gael, o pai da criança, policiais e profissionais do Samu que cuidaram do caso.
O principal testemunho é da tia-avó, a principal responsável pelos cuidados do garoto. Ela conta que deu mamadeira para Gael por volta das 9h e ficou na sala com ele assistindo televisão até que ele decidiu se juntar à mãe na cozinha.
A tia-avó ouviu o garoto chorar um pouco, “mas não se preocupou pois pensou que ele queria colo”. Ela teria chamado Gael, mas Andréia falou “deixa ele aqui”.
Cerca de cinco minutos depois, ouviu barulhos fortes de batidas na parede, mas pensou que fosse em outro apartamento. Naquele instante, porém, “Gael parou de chorar”.
“Depois de cerca de 10 a 15 minutos, ouviu barulho de vidros sendo quebrados vindo da cozinha e foi ver o que estava ocorrendo. Ao chegar na cozinha, viu Gael deitado de lado no chão com vômito e coberto com uma toalha de mesa”, descreve o depoimento da tia-avó.
“A depoente logo puxou a toalha de cima de Gael e perguntou para Andréia o que havia acontecido, mas ela nada respondeu, ficou de cabeça baixa e não pronunciou nenhuma palavra, mesmo a depoente tendo perguntado outra vez”, diz o boletim.
Ao notar que que Gael já estava sem vida, a tia-avó levou o corpo para um quarto enquanto pediu para que a meia-irmã do garoto, de 13 anos, chamasse o Samu.
“Não disse a ela que ele já estava morto para não assustá-la ainda mais e ela perguntava o todo tempo se ele ia viver”, segundo o documento. “Por telefone, teve orientação do Samu para tentar reanimar Gael até que eles chegassem”.
Enquanto a adolescente fazia massagem cardíaca no garoto, a tia-avó trocou a fralda do menino. “O Samu chegou logo e fizeram bastante massagem cardíaca” antes de levá-lo ao hospital, onde houve a confirmação do óbito.
Tentativa de resgate da criança
Uma das testemunhas, um enfermeiro do Samu afirmou que foi chamado para atender uma ocorrência de “parada cardiorrespiratória”. Ao chegar no apartamento e se deparar com a porta principal trancada, ele entrou pela cozinha, onde encontrou “cacos de vidro pelo chão e objetos quebrados pela casa e uma mulher sentada no canto da cozinha com a cabeça baixa”.
“Então andaram pelo apartamento e encontraram a criança em um dos cômodos, no chão, sendo atendida pelo restante da equipe, que realizava massagem cardíaca”, diz o B.O.
Como a criança não respondeu aos estímulos, o médico intubou a criança, que foi medicada e levada “à unidade hospitalar mais próxima”. Segundo o testemunho do médico do Samu, a meia-irmã da vítima, “bastante nervosa”, foi quem o levou ao quarto onde a criança estava.
Prisão da mãe
Outra testemunha, o condutor do socorro disse que foi recebido no prédio pelo ex-marido da suspeita, “que informou que Andréia estava tentando se matar no banheiro”.
Ao chegar no apartamento, se deparou com o local revirado, com objetos jogados pelo chão e água na cozinha. Ele tentou contato com Andréia, mas ela não respondeu.
De acordo com o relato à polícia, ele decidiu arrombar a porta e encontrou a mulher “em posição fetal embaixo do chuveiro com uma toalha na cabeça”.
O condutor pediu ajuda a uma policial feminina para conversar com a Andréia, que permaneceu quieta. A mãe foi colocada em uma cadeira de rodas, algemada, colocada numa ambulância e levada ao hospital com escolta.
Pai encontrou o filho sem vida no hospital
Ouvido pela polícia, o pai de Gael, de 35 anos, disse que foi informado sobre o incidente pelo ex-marido de Andréia. Ao telefone, disse que o garoto havia passado mal “e Andréia estava dizendo que iria se matar”.
Ele correu para a Santa Casa, onde foi informado que Gael havia dado entrada no hospital já sem vida. “Apesar de a guarda ser de Andréia, quem mais cuidava de Gael era a genitora de Andréia”, contou o pai da criança. “Contudo, ela sempre pareceu uma mãe preocupada com o filho.”
Questionado se ela sofria de problemas psicológicos, ele respondeu que nunca testemunhou nada, embora a família dela tenha dito “que ela surtava”. “Às vezes ela tinha oscilações de humor e depois pedia desculpas”.
Midiamax