
A combinação direção e álcool em Mato Grosso do Sul levou a taxa de 8,5 mortes por 100 mil habitantes, a quinta maior do Brasil – Foto: Gerson Oliveira
Uma pesquisa do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), com base em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, colocou o Mato Grosso do Sul (MS) entre os estados com maior número de mortes no trânsito relacionadas ao consumo de álcool. Em 2023, o estado registrou uma taxa de 8,5 óbitos por 100 mil habitantes, ocupando o 5º lugar no ranking nacional.
O índice de MS só é superado por Tocantins (12,8), Mato Grosso (11,5), Piauí (10,8) e Rondônia (10,5). A taxa nacional de mortes causadas por embriaguez ao volante é de 5,7. Apenas nove estados brasileiros ficaram abaixo dessa média, entre eles São Paulo (3,9), Rio de Janeiro (4,2) e Distrito Federal (3,9).
Além da alta taxa de mortalidade, Mato Grosso do Sul também ocupa lugar de destaque no número de internações hospitalares por acidentes de trânsito envolvendo o uso de álcool. Segundo dados de 2021 da mesma pesquisa, o estado é o terceiro do país nesse quesito, com 62,5 internações por 100 mil habitantes, atrás apenas do Piauí (85,2) e Espírito Santo (72,7).
Os dados também mostram um aumento de 9% nas mortes relacionadas ao álcool no trânsito no estado entre 2021 e 2023, passando de 7,8 para 8,5 óbitos por 100 mil habitantes.
Panorama nacional preocupa
Em todo o país, as mortes no trânsito associadas ao álcool aumentaram 3% entre 2022 e 2023, saltando de 11.961 para 12.310. A maioria das vítimas são homens (87%), e as faixas etárias mais atingidas vão de 18 a 54 anos, que somam quase 70% dos óbitos.
Apesar do crescimento recente, a taxa nacional caiu 23,6% entre 2010 e 2023, reflexo de políticas públicas como a Lei Seca e campanhas de conscientização. Ainda assim, a média nacional tem se mantido estável desde 2018, oscilando pouco a cada ano.
Para o presidente do Cisa, o psiquiatra Arthur Guerra, a tolerância zero à direção sob efeito de álcool tem salvado vidas, mas é preciso levar em conta as diferenças regionais. “O Brasil é um país de dimensões continentais, e há cenários muito distintos. Monitorar os dados locais é essencial para que gestores públicos proponham soluções adequadas à realidade de seus estados e municípios”, afirma.
Santa Casa superlotada em Campo Grande
Em Campo Grande, a capital do estado, o aumento no número de acidentes de trânsito tem impactado diretamente o sistema de saúde. A Santa Casa, maior hospital do estado, relatou que uma pessoa é internada vítima de acidente de trânsito a cada 20 minutos.
De janeiro a abril de 2024, foram 8.803 atendimentos relacionados a acidentes, contribuindo para a superlotação da unidade, que teve de suspender cirurgias eletivas por falta de recursos. Ao todo, 33.335 vítimas de acidentes foram atendidas no hospital neste ano. Entre os casos mais frequentes estão colisões entre carros e motos (1.927 registros) e acidentes envolvendo apenas motocicletas (397 casos).
Para o médico emergencista Rodrigo Quadros, o impacto vai além do hospital: “Acidentes graves podem resultar em morte, internações prolongadas, cirurgias complexas e até sequelas irreversíveis. A conscientização de todos no trânsito motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres é essencial. A prevenção ainda é a melhor forma de evitar tragédias”.
BATANEWS/REDAçãO