Árvores: refúgio ou problema? Um olhar sobre Cassilândia

Árvores: refúgio ou problema? Um olhar sobre Cassilândia

O geógrafo cassilandense, Antônio Iderlian

Hoje iniciamos aqui uma tentativa de coluna mensal ou quinzenal na qual tentaremos descomplicar ideias e conceitos do mundo das ciências e aplicá-los em discussões cotidianas de total relevância no contexto das cidades e dos hábitos exigidos ou impostos para se morar nelas.

Para começar, meu nome é Antonio Idêrlian. Sou cassilandense, Geógrafo, formado pela Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, especialista em topografia e sensoriamento remoto, mestre em Geografia, com ênfase no estudo de áreas de risco, desastres e Geoprocessamento aplicado. Também sou professor e atualmente estou cursando o doutorado na mesma linha e área do mestrado.

Feitas as apresentações, nossa primeira temática a ser discutida aqui é sobre as árvores e seu contraste na cidade, para uns um ambiente de sombra, de paz, um refúgio, para outros, um incômodo, um mecanismo que somente gera sujeira, que danifica calçadas, um “risco” que pode cair.

De acordo com o dicionário Michaelis, a árvore é tida como um “vegetal lenhoso, em geral de porte alto, que apresenta um caule principal ereto, ou tronco, fixado no solo com raízes, e que se ramifica em galhos carregados de folhas que se constituem em copa”. Essa definição não é abrangente o suficiente a ponto de nos fazer retomar a importância que a árvore tem para a humanidade, ou mesmo de quebrar com a ideia de que o ser humano não é natureza, de que somos externos a ela e por isso podemos dominá-la.

Nossa ideia aqui é apresentar a vocês 3 benefícios gratuitos que a existência desse tipo de vegetação promove e de que modo eles refletem na qualidade de vida, na produção de saúde e na economia financeira.

 

Desenho com traços pretos em fundo brancoDescrição gerada automaticamente com confiança baixa
Fonte: Brasil Escola. Disponível em: https://s2.static.brasilescola.uol.com.br/img/2017/04/espectro-eletromagnetico.jpg

Vamos começar pela primeira. Para quem não sabe, o planeta Terra é diariamente enraigado por luz solar. Essa luz, que também é conhecida como radiação eletromagnética, adentra a atmosfera na forma de ondas longas. Essas ondas, que variam das ondas de rádio, passam pelas tão temidas ultravioletas e acabam na radiação gama, são naturalmente e parcialmente filtradas pelas várias camadas da atmosfera.

Por exemplo, a cor do céu que observamos no dia a dia é resultado da interação dessa radiação com uma camada de gases e partículas presentes em uma das camadas da atmosfera, que promove um processo de espalhamento dessa luz e o reflexo da luz azul. Esse mesmo processo ocorre nas nuvens e em qualquer superfície visível.

Para que vocês nunca esqueçam: se um objeto possui cor, por exemplo a cor verde, isso indica que ele absorveu “toda” a radiação que chegou até ele e refletiu a cor verde. Se esse objeto é branco, isso indica que ele refletiu todas as cores; e se ele é preto, isso indica que ele absorveu todas as cores.

DiagramaDescrição gerada automaticamente
Fonte: Aprendendo Além da Escola. Disponível em: https://mikajojo.webnode.com.br/news/o-que-e-albedo-/

Voltando às árvores, mas ainda continuando falando sobre radiação. Se não se recordam, quando direcionamos uma fonte de energia sobre uma superfície por um tempo determinado, teremos a produção de calor (essa é uma explicação simplória). Esse calor, pela primeira lei da termodinâmica, é um processo de transformação e, talvez, dissipação.

Esse mesmo fato acontece no dia a dia em nosso planeta. Como disse para vocês, toda radiação que entra na superfície ou é absorvida parcialmente e refletida o restante, ou absorvida totalmente, ou refletida totalmente. Esse processo também podemos chamar de balanço de energia. A parte que é absorvida pelas árvores é, por exemplo, utilizada no seu processo de fotossíntese.

A existência de árvores, portanto, promove nas cidades uma divisão bem clara entre as radiações que são recebidas. Isso implica que a existência de árvores próximas às residências, nas praças, nos córregos, atua diariamente roubando parte dessa radiação e impedindo que as residências e moradias fiquem muito quentes ao longo do dia.

Existe um princípio na climatologia que explica que toda a radiação recebida ao longo do dia só retorna à atmosfera entre o final daquele dia e início do outro. Você já prestou atenção que a sua casa sempre está mais fresca pela manhã?

E onde quero chegar com esse primeiro ponto? Sem a existência de árvores, toda a radiação irá se direcionar ao asfalto, às moradias, e isso promoverá um sobreaquecimento, implicando em um desconforto térmico e, por conseguinte, aos que têm condições de possuírem um ar-condicionado, na utilização prolongada desses aparelhos.

Mas não para por aí: as geladeiras também trabalham com sistema de refrigeração que compensa o frio com base na diferença de temperatura. Ou seja, ao final teremos aumentos substanciais no consumo de energia e com isso no valor a ser pago.

Árvores: refúgio ou problema? Um olhar sobre Cassilândia
Fonte: Acervo do autor.

Aproveitando a onda promovida pela 5ª Conferência Nacional de Meio Ambiente, que está debatendo a questão atual das emergências climáticas, vamos apresentar mais dois pontos muito importantes nessa discussão.

GráficoDescrição gerada automaticamente
Fonte: Geo Conceição. Disponível em: https://geoconceicao.blogspot.com/2012/03/1-origem-das-ilhas-de-calor-os-grandes.html

Das mensagens que quero deixar com essa discussão são:

1. No contexto crescente das ondas de calor, precisamos pensar em medidas que continuem garantindo a existência da vida na região Centro-Oeste;
2. Com a redução no número de árvores, seria prudente pensar em estratégias para a população que trabalha constantemente exposta ao sol. Além de prejudicial, a longo prazo pode trazer sérios danos à saúde;
3. As árvores, que parecem produtoras de sujeira para nós, são a longo prazo uma grande fonte de economia de energia e de qualidade de vida;
4. Ainda há tempo de reverter cenários. Não podemos chegar ao ponto de virarmos migrantes climáticos.

Cassilândia Notícias

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