Quando o assunto é traição, geralmente o homem leva a culpa sozinho.
Mas não é bem assim. As mulheres estão traindo os seus companheiros como nunca.
Um dos exemplos que podem ilustrar o machismo é a forma como a sociedade julga a traição dependendo do gênero que foi infiel. Há quem veja a infidelidade masculina como uma consequência biológica: “homens são assim mesmo”. Já o comportamento infiel da mulher é encarado com indignação, condenamento e até feminicídio. Se a mulher é mãe, não é incomum que até mesmo seu amor aos filhos seja questionado devido ao ato. Mas, apesar de ser um tabu, a traição, feminina e masculina, é uma realidade possível.
Segundo uma pesquisa do Instituto Francês de Opinião Pública (Ifop), 38% das mulheres entrevistadas declararam ter sido infiel ao menos uma vez durante algum relacionamento. Quando perguntadas sobre algum tipo de “infidelidade psíquica”, 61% relataram que sim. De acordo com as entrevistadas, durante o relacionamento, 46% se sentiram atraídas por outra pessoa em algum momento e 22% de fato flertaram com outro alguém.
Apesar dos índices altos, o tabu é tão grande que, mesmo entre as mulheres, apenas 31% contaram à melhor amiga sobre um caso extraconjugal na época do ocorrido. Além disso, 28% delas só contariam depois de um tempo e 41% nunca falariam, nem mesmo para uma pessoa confiável. No entanto, esse resultado varia de acordo com a idade: 79% das mulheres com menos de 30 anos se sentiram confortável para confidenciar a uma amizade próxima.
“Embora boa parte das mulheres acredite que a sociedade evoluiu nesse sentido, a parcela que acha que a infidelidade feminina é o grande tabu do século é considerável”, analisa Silvia Rubies, diretora de Comunicação e Marketing do Gleeden, plataforma que organiza encontros extraconjugais. Para ela, o estudo reflete que o assunto continua sendo estigmatizado, mesmo em meio a movimentos de empoderamento feminino e em prol da igualdade de gênero. “A estigmatização da infidelidade do sexo feminino é tão internalizada que as próprias mulheres infiéis declaram que é difícil para elas falarem sobre isso com alguém, não importa quão próximas sejam”, diz.
Ainda conforme a pesquisa do Ifop, 32% afirmam ter sido infiel entre o primeiro e o terceiro ano do relacionamento, 8% afirmou ter traído entre o sétimo e o décimo ano. A porcentagem volta a aumentar a partir dos 10 anos de relacionamento, chegando a 28%.
Já um estudo com as usuárias do site, segundo a diretora, mostrou que 27% das mulheres decidiram entrar na plataforma em busca de carinho e compreensão e 30% para se sentirem desejadas. “Você pode se perguntar o porquê de buscar atenção e carinho fora do relacionamento? Basicamente porque a maioria das usuárias não os recebe dos parceiros, que estão acomodados com a situação e deixam o tempo passar. Os relacionamentos acabam esfriando, o que leva algumas pessoas a se sentirem desconfortáveis e partir em busca de novas aventuras, sem deixar de amar e respeitar quem está, diariamente, ao lado delas”, afirma Silvia.
Mas, mesmo para as clientes do site extraconjugal, a decisão parece não ter sido fácil. Das usuárias, 86% disseram ter tido muitas dúvidas e reservas antes de dar o primeiro passo. O medo de perder a família foi o principal relato (40%). Os preconceitos morais vêm logo em seguida, com 33% das mulheres entrevistadas. “Isso quer dizer que o medo de ser mal vista, como promíscua, é algo muito presente na sociedade, em especial para as mulheres”, avalia Silvia. Edição do Brasil