Uma família de Campo Grande passou por momentos de angústia enquanto esperava uma vaga para internação de uma paciente psiquiátrica em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) da Capital, no último fim de semana.
De cordo com o relato, a paciente teria tido uma crise e teria atacado crianças da família e também uma vizinha. Ela foi encaminhada com urgência para o CRS (Centro Regional de Saúde) do Aero Rancho, mas não havia vaga imediata em um CAPS. A paciente chegou a ficar deitada na parte externa da unidade de saúde, no momento da chuva, o que causou revolta na família.
Filha da paciente, de 26 anos, relata que é difícil a rotina de quem precisa do atendimento no CAPS em Campo Grande. Já regulada para internação em uma unidade, a mãe dela é paciente psiquiátrica há mais de 20 anos. Ela também conta que enfrentou vários problemas para conseguir a internação: teve que fazer um vídeo, reclamar muito e até ameaçar entrar na Justiça para conseguir que a mãe ficasse internada.
A jovem fez um vídeo e deu seu depoimento ao Jornal Midiamax e diz que não sabe o que fazer. Ao longo desses anos, diz que o sentimento é abandono e falta de assistência pelo sistema de saúde.
“A minha mãe tem doença psiquiátrica há mais de 20 anos. Ela teve uma crise, atacou as pessoas com faca e chamaram uma ambulância. Levaram para o 24 horas, onde ela ficou contida.
No outro dia, tiraram as amarras e ela ficou andando pelo posto, ficou do lado de fora, onde estava chovendo. Fui levar comida para ela e falei que não tinha como ficar de acompanhante dela, que precisava de uma vaga para o CAPS, porque lá não precisa de acompanhante. Falaram que não tinha como ir para o CAPS e deixaram ela lá.
Às vezes, a gente chega e acham que queremos abandonar ou coisa do tipo. Tratam a gente com arrogância. Tentamos conversar, falar que não tem como perder uma semana de serviço para ficar de acompanhante, mas eles não querem saber. Não tem assistência, não tem apoio.
Perdemos serviço e até corremos risco de vida e não podemos reclamar. Não tem como fazer nada.
Ela fica uma, duas semanas internada, fica um tempo bem, tem outro surto e até corremos risco de vida. Não é a primeira vez que ela ataca as pessoas com faca. Vão encher ela de medicação, dão alta e quando o efeito for passando, ela volta a ficar agitada. A gente não pode fazer nada”.
O que diz a Sesau
A Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que em caso de surto psiquiátrico, o procedimento padrão é encaminhar o paciente, normalmente via Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) a uma unidade 24 horas, onde ele será medicado e acompanhado por uma equipe móvel da saúde mental até que haja disponibilidade de uma vaga em CAPS. Conforme a Sesau, foi o que aconteceu com a paciente.
“É importante ressaltar que a paciente tem o acompanhamento necessário enquanto está aguardando a regulação, contudo não há como obrigá-la a permanecer no leito, para isso seria necessário uma contenção, prática adotada somente quando há riscos seja para o paciente ou para terceiros e que é, na maioria dos casos, bastante agressiva ao tratamento psíquico. A transferência foi feita assim que uma vaga surgiu no CAPS”, informou a Sesau.
Falta de CAPS é apurada pelo Ministério Público
A falta de Centros de Atenção Psicossocial em Campo Grande é apurada desde 2019 pelo MP-MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), que abriu um inquérito civil para apurar o porquê da insuficiência e também, a falta de atendimento individual de psicoterapia nas redes municipais de saúde. A última movimentação pública do inquérito é do dia 4 de março deste ano, como “Encaminhamento ao Membro”. O Jornal Midiamax entrou em contato com o órgão para saber mais informações sobre o andamento, mas não houve retorno.
Durante a instrução do inquérito, o órgão estadual ouviu esclarecimentos da Sesau para entender qual o motivo para a falta de CAPS.
Como procurar ajuda
De acordo com a Sesau, o atendimento dos CAPS é feito por demanda espontânea, em casos de urgência, e por encaminhamento através da unidade básica para atendimento ambulatorial.
Recomenda-se que o paciente procure sempre a unidade de saúde mais próxima de sua casa. A Sesau afirmou que hoje o Município conta com quantitativo suficiente para atender a demanda. Com as novas unidades, serão ampliados mais 60 leitos.
Rede de atendimento
A Rede de Saúde Mental do Município é composta por 6 CAPSs, sendo 4 CAPS III, 1 CAPS A.D IV, 1 CAPS Infanto Juvenil, 1 Unidade de Acolhimento e 3 Residências Terapêuticas. Todas as unidades funcionam 24 horas por dia, com média de 1300 consultas ambulatoriais de saúde mental e 2000 mil atendimentos nos CAPS por mês. Somente a Rede Municipal possui 101 leitos para atendimentos de pacientes com problemas psiquiátricos ou usuários de álcool e drogas.
Conforme a Sesau, a Unidade de Acolhimento Infantil (UAI), a primeira de Mato Grosso do Sul, foi inaugurada em setembro do ano passado e está integrada ao Complexo de Saúde Mental, aberto na mesma data.
O novo CAPS Álcool e Drogas AD IV tem previsão de inauguração ainda no primeiro semestre deste ano. Além destas, outras iniciativas foram desenvolvidas nos últimos anos e estão programadas para a área de saúde mental, como a implantação de 20 leitos de Saúde Mental em Hospital Geral em parceria com a Santa Casa, em dezembro de 2021; Inauguração da terceira Residência Terapêutica tipo II, prevista para abril deste ano; Implantação de uma Unidade de Acolhimento Adulto até 2024 .
Confira os endereços e telefones dos CAPS de Campo Grande
Centro de Atenção Psicossocial III Vila Almeida – CAPS III Vila Almeida
Telefone: (67) 2020-1714 – (67) 2020-1715
Endereço: Rua Marechal Hermes, 854 – Vila Almeida
Horário de Atendimento: 24h
Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III “Fátima M. Medeiros” – CAPS AD IV
Telefone: (67) 3314-3756 / (67) 2020-1903 / (67) 2020-1904
Endereço: Rua Teotônio Rosa Pires, 19 – São Bento / Esquina com a Rua José Antônio, duas quadras acima da Av. Fernando Correia
Horário de Atendimento: 24h
Centro de Atenção Psicossocial III – CAPS III Aero Rancho
Telefones: Recepção: (67) 2020-1899 / Gerência: (67) 2020-1901 / Enfermagem: (67) 2020-1902 / Assistente Social: (67) 2020-1900
Endereço: Avenida Raquel de Queiroz, s/n – Aero Rancho
Centro De Atenção Psicossocial Caps III – Afrodite Dóris Contis
Telefones: (67) 2020-1897 – Recepção / (67) 2020-1898
Endereço: Rua São Paulo, 70 – Esq. com Rua Pedro Celestino – Monte Castelo
Horário de Atendimento: 24h
Centro de Atenção Psicossocial III “Marley Maciel Elias Massulo” – CAPS III Vila Margarida
Telefone: (67) 3314-3144 / (67) 2020-1895
Endereço: Itambé, 2.939 – Vila Rica
Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil III “Dr. Samuel Chaia Jacob” – CAPS IJ III
Telefones: (67) 2020-2085 / 2020-2086
Endereço: Rua São Paulo, 70 – Esq. com a Rua Pedro Celestino – Bairro Monte Castelo
Horário de Atendimento: 24 h (idade até 18 anos)
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