Campo Grande já teve casos semelhantes ao ‘Golpista do Tinder’; saiba táticas e como se prevenir

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‘Estelionatário do amor’ de MS responde ao menos 6 processos, mas segue em liberdade

O nome de Simon Leviev ficou em alta após documentário da Netflix detalhar como o ‘golpista do Tinder’ conquistava vítimas para praticar crimes de estelionato e garantir altos valores ilegalmente. Mas, mesmo em Campo Grande, casos de estelionato amoroso ou estelionato emocional já foram noticiados. Saiba aqui como evitar ser mais uma vítima dos golpistas.

O crime em questão está previsto no artigo 171 do Código Penal, estelionato. No entanto, a Lei 14.155 de maio de 2021 alterou o dispositivo, criando o parágrafo que trata de crime praticado pela internet, com pena de 4 a 8 anos de reclusão. Em vários casos, esse tipo de golpe é aplicado após autor e vítima se conhecerem pelas redes sociais ou aplicativos de relacionamento.

“Alguns especialistas chamam essa conduta de estelionato emocional, outros de ‘catfish’, muito comum no sentido de fazer a vítima ganhar confiança e, depois de um tempo, começar a tirar dinheiro dessa pessoa”, pontua o advogado e professor Raphael Chaia, especialista em Direito Digital e presidente da Comissão de Direito Digital da OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil / Seccional de Mato Grosso do Sul).

Em vigor há menos de um ano, ainda não há condenações desse tipo penal em Mato Grosso do Sul. “Casos de catfish e estelionato sentimental já ocorrem há muito tempo e, nestes casos, aplica a pena de estelionato”, esclarece Chaia. Para o advogado, é importante que a vítima sempre “confie desconfiando”.

“Você não sabe quem são as pessoas que vão te abordar na internet, muitas vezes usam fotos de viagens”, afirma. Uma técnica apontada pelo advogado especialista é de pesquisar as fotografias pelo Google Imagens, já que muitas vezes são fotos de terceiros. Outra dica importante também é evitar passar dinheiro para desconhecidos.

“Por mais que você conheça a pessoa, converse há um tempo, se começou a pedir dinheiro tem que ficar com pé atrás, tem que se prevenir, porque a quantidade de golpistas que a gente tem hoje é muito grande”, afirma. Em casos de estelionato sentimental, a delegada Ana Luiza Noriler, da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) ainda dá outra dica, dizer não.

“Se pediu um valor emprestado, confirme se realmente ele precisa. A partir do momento que a vítima fala ‘não’, o estelionatário busca outra vítima. Ele rompe aquele relacionamento”, esclarece. Ainda conforme a delegada, o estelionatário acaba se desvencilhando para conseguir encontrar outra vítima.

É violência doméstica?

Também de acordo com a delegada Ana Luiza, se o estelionato contra a mulher acontece em relação íntima, de afeto ou parentesco, é considerado violência doméstica e familiar. “Muitas vítimas se relacionam amorosamente com os golpistas há bastante tempo. Não são relacionamentos rápidos, porque eles precisam conquistar a confiança das vítimas”, pontuou.

Delegada Ana Luiza, da Deam (Foto: Leonardo de França)

“Existem precauções que podemos tomar em qualquer situação para não ser vítima desses crimes. Sempre desconfiar. É muito difícil nesses casos, porque envolve um sentimento entre a vítima e o estelionatário”, relata a delegada. Outro fato a ser observado é, em caso de transferência de dinheiro ou mesmo por PIX, observar o nome da conta.

“Se pede transferência no nome de outra pessoa, suspeite. Porque muitas vezes o golpista usa um nome ‘fantasia’”, diz a delegada. Também conforme a autoridade policial, caso a pessoa tenha sido vítima e acabou caindo no golpe, deve procurar a delegacia de polícia — em caso de violência doméstica a Deam — para registrar a ocorrência.

Do Netflix para a vida real

Em Campo Grande, um homem já foi personagem de várias notícias pelos golpes que aplicava, agindo como um ‘estelionatário do amor’. Com ao menos 6 processos — abertos — por estelionato, ele também já chegou a ser preso por furto. Os golpes denunciados aconteciam sempre com ele se apresentando como um militar, da polícia ou do Exército.

Uma denúncia feita pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) esclarece a forma como o golpista agia. Na ocasião, em 2017 ele induziu a mulher ao erro, obtendo vantagem ilícita de R$ 30.420,55, referente a um Gol Trendline que conseguiu fazer a vítima financiar para ele, no nome dela.

Da mesma mulher ele também conseguiu um par de tênis e um relógio, avaliados em R$ 499,99 e R$ 899 respectivamente. O golpista e a vítima se conheceram pelas redes sociais e ele se apresentou como militar do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais). Ele manteve um relacionamento com a vítima e a induziu a comprar para ele os pertences, sempre prometendo que pagaria.

Aqui, ele age da mesma forma mostrada no documentário da Netflix. Ele dizia que tinha estabilidade financeira, por ser policial militar, por isso não deixaria de pagar a vítima. Assim como Simon, que se apresentava para as vítimas como empresário, que andava sempre com seguranças, em avião particular e carros de luxo.

No caso da vítima de Campo Grande, ela acabou financiando o carro para o golpista com quem pensava ter um namoro. O carro valia R$ 88.659,66. Depois da compra dos bens, ele passou a agir diferente, evitando contato, chegou a discutir com a vítima e rompeu o relacionamento, quando ela descobriu que ele não era militar.

Um amigo na época enviou notícias que já falavam sobre a fama de golpista do suspeito, bem como que ele reprovou no concurso da Polícia Militar, pelas ocorrências de estelionato. O processo segue em andamento e a vítima pede indenização de R$ 30.402,55.

Em abril de 2021, ele chegou a ser condenado a um ano de reclusão — pena convertida em serviço comunitário. O processo tratava da compra de um iPhone em 2016. Ele comprou o aparelho em um site de vendas e enviou os comprovantes de transferência bancária para a vítima — no total de R$ 2.650 — pelo Facebook.

Só depois o vendedor percebeu que as transferências eram falsas. Ele ainda foi atrás do suspeito, que dizia que iria pagar, mas nunca ressarciu a vítima. No processo já constavam 6 ações penais contra o acusado por estelionato. No ano passado, em agosto de 2021, o suspeito voltou a ser notícia.

Uma mulher o acusou de ameaça após descobrir que tinha sido vítima de golpes. Segundo a mulher, ela recebeu uma mensagem do suspeito, dizendo que não tinha atendido a ligação porque estava em uma missão. A vítima respondeu ao número desconhecido, afirmando que não tinha ligado. Foi assim que o golpista começou a conversar com ela e ‘fisgou’ a vítima.

Se apresentando como militar do Exército, ele puxou conversa e conquistou a vítima, que passou a se envolver amorosamente com ele. Durante o relacionamento, o acusado mentiu, dizendo que tinha vendido um terreno de R$ 300 mil e que o dinheiro tinha sido bloqueado pelo banco. Ludibriada pelo golpista, a mulher acabou ajudando, emprestando a ele R$ 10 mil. Em outra ocasião, passou o cartão em uma loja, no valor de R$ 3 mil para o suspeito.

O estelionatário andava em um Jeep Renegade novo, segundo a vítima, veículo que não sai por menos de R$ 90 mil. Tudo isso para simular ter boa condição financeira. A mulher só descobriu o golpe quando o falso militar disse que a levaria em uma festa, no Exército. Quando ela estava pronta para a festa, ele ligou, dizendo que o general tinha cancelado o evento.

Desconfiada, ela conversou com um amigo, que é militar do Exército, e ele disse que não havia ninguém com o nome do namorado dela no comando e ainda que não tinha nenhuma festa marcada. Após descobrir o golpe, a vítima se afastou do acusado, quando começou a ser ameaçada e a receber ligações. Por isso, registrou boletim de ocorrência pelo estelionato e também pela violência doméstica.

Em 7 de novembro, o acusado foi vítima de um atentado em Campo Grande. Ele foi atingido por 8 tiros e chegou a ficar internado em coma na Santa Casa, recebendo alta menos de um mês depois. O caso segue em investigação, mas conforme apurado pelo Midiamax, ele ainda não teria prestado esclarecimentos na delegacia.

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