Era quarta-feira por volta das 10h30 de uma manhã de sol em Cassilândia, cidade cravada entre serras e o Rio Aporé, no chamado Bolsão de Mato Grosso do Sul.
A polícia foi acionada para fazer a escolta de um detento, aparentemente enfermo, morador ilustre da penitenciária local, até o hospital da Rua Sebastião Leal.
A enfermeira ordenou que tirasse a roupa e o detento fez o seu strip-tease sem direito a música dance.
Assim que surgiu a oportunidade de ficar só e nu, o detento raciocinou: “Quer saber de uma, Perivaldo? Eu vou vazar daqui e viver, pelado da silva, pelo menos alguns momentos de total liberdade…”
E saiu correndo, pelado como nascera, pela porta do hospital afora, correndo pela Rua Laudemiro Ferreira de Freitas rumo à ponte, em velocidade de sprinter, caso fosse uma corrida de rua.
O policial gritou e, como não adiantou e vendo que o detento atleta passou a correr ainda mais veloz, deu um tiro de advertência para o alto, para o espanto de todos.
Duas viúvas se cutucaram ao ver o homem nu correndo. Uma delas gritou:
– Ei, gostosão, volta, volta! Eu lhe levo pra casa. É aqui pertinho!
E a outra viúva também bradou:
– Vem aqui, rapaz! Eu te dou comida, roupa lavada, casa e muito cafuné! Vem, menino!
E o detento continuou correndo em disparada. Um gay não resistiu e falou para uma amiga:
– Menina, olha que boy! E eu tô tão carente depois que o Giba se foi…
E foi aquele bafafá. Um rebuliço.
Finalmente a polícia alcançou o detento peladão.
O policial que o segurou foi logo perguntando:
– Por que você saiu correndo nu pela cidade?
Aí o detento respondeu, com um sorriso daqueles:
– Você já ouviu falar em liberdade? Então está muito calor e eu resolvi pegar um ar por aí. É para refrescar as ideias.
E com as ideias mais frescas está lá na penitenciária, trancado e devidamente vestido com o uniforme padrão.
CORINO ALVARENGA