Apesar da menstruação ser considerada um tabu e pessoas falarem pouco sobre ela – especialmente sobre tudo que tange o cuidado íntimo feminino – as mulheres sempre menstruaram. E isso é óbvio. Ao longo da história, produtos foram adaptados para ‘estocar’ esse sangue natural, e o absorvente foi o queridinho por muitas décadas. Contudo, hoje em dia existem novas opções no mercado que, além de promover por vezes mais conforto, também revelam como os olhares das mulheres para o próprio bem-estar tem aumentado.
A ginecologista Ana Helena Mattos (CRM MS/3055) explicou ao Midiamax que as pacientes estão cada vez mais buscando por alternativas que fogem do absorvente convencional. Os principais motivadores são conforto e sustentabilidade.
Você sabia que uma mulher pode acumular cerca de 200 quilos de lixo menstrual somente com absorventes descartáveis? 90% desse material é feito de plástico e demora mais de 400 anos para se decompor. Os números atuais do Instituto Akatu revelam uma problemática ambiental. Frente a isso, existem soluções que conferem maior preservação.
Proliferação de bactérias
Fora essas questões, o absorvente também possui substâncias nocivas à saúde e que podem potencializar o desenvolvimento de bactérias na região íntima. Estudo realizado por médicos da Universidade de Yale, Estados Unidos, mostram que a carboximetilcelulose geleificada, usada nos absorventes, proporciona um meio viscoso propício para as bactérias. Além disso, ainda existem outras substâncias nocivas, como a dioxina e o rayon.
Outra pesquisa realizada por empresa especializada em fertilidade revelou que 71% das brasileiras não têm conhecimento sobre essas substâncias que fazem mal, especialmente as 79% de mulheres que usam absorventes externos tradicionais, e as 15% que utilizam os internos.
Os dados por região demonstram que, a Paraíba é o estado em que mulheres mais possuem conhecimento sobre essa informação, com 36% das participantes. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, 30% e 28%, respectivamente. Já no Ceará, o número é reduzido para 21%.
Viu como falta informação sobre a saúde feminina? E como isso pode afetar a qualidade de vida de muitas? Mas sim, existem soluções.
Opções para trocar o absorvente descartável
Uma delas são as calcinhas absorventes, muito recomendadas para meninas que estão começando a menstruar e precisam entender como funciona o período e o seu corpo. Ana Helena Mattos ainda indica esse produto para mulheres que têm alguma limitação cognitiva ou motora. “A calcinha vai dar uma segurança maior”, explica.
Temos também os coletores vaginais – o famoso copinho – muito requisitado por ser igualmente reutilizável. Apesar de trazer muitos benefícios no dia a dia, existem cuidados necessários que devem ser seguidos. Como o coletor é introduzido dentro do canal vaginal, ele não é indicado para mulheres virgens.
“Mulheres que nunca tiveram relação sexual vão ter uma dificuldade maior na hora de colocar o coletor, podem ter uma lesão de membrana himenal que pode causar um desconforto”, pontua a médica. Ela ainda dá dicas indispensáveis para o manuseio do coletor:
- Higiene caprichada a cada troca;
- Deve ser guardado em locais protegidos contra fungos e bactérias;
- Ter cuidado na hora de introduzi-lo;
- Ficar atenta ao tempo de permanência do coletor dentro da vagina (tempo de segurança é de 3 horas);
“Esse sangue não pode ficar no ambiente vaginal por muito tempo porque ele é uma sopa pra bactérias e fungos. Então se você deixa o coletor vaginal ou absorvente interno por muitas horas, dentro da região vaginal, isso pode sim promover algumas infecções ”, disse.
Vale ressaltar que o coletor menstrual não é indicado para mulheres que usam DIU, porque ele pode provocar um vácuo no colo do útero e deslocar o dispositivo ao ser retirado. Se você faz parte desse grupo e deseja uma opção reciclável, a calcinha absorvente é uma. O importante é que os produtos sejam adaptáveis à realidade de cada mulher.
Quem usou, aprovou
Com certeza muitas mulheres se questionaram se essas novas alternativas realmente valiam a pena, funcionavam e eram seguras. Por isso, trouxemos dois depoimentos de pessoas que aderiram a esse universo.
Alice Carolina Estival Navarro comprou um coletor menstrual no ano passado e desde então nunca mais voltou ao absorvente convencional. Ela fez essa escolha pensando no meio ambiente, economia e por oferecer mais higiene. A adaptação foi rápida e hoje ela já se acostumou a usar o ‘copinho’.
“Jamais penso em voltar a usar absorvente! Acho super ultrapassado. Hoje em dia, temos que pensar no meio ambiente, imagina a quantidade de lixo que já produzimos mais os absorventes que usamos. Além disso, é econômico, pois você compra e ele dura por uns 2 anos”, disse a estudante.
O coletor também traz maior praticidade em viagens, para entrar no mar, piscinas e usar determinados tipos de roupas durante o período menstrual.
Ana Beatriz Vicentini também tentou se adaptar ao coletor, mas não conseguiu. Então a saída foi a calcinha absorvente, produto que também traz conforto e é reutilizável. “Acabou ajudando bastante porque eu não precisei voltar a comprar absorvente, porque é uma coisa que eu não gosto muito de usar”, comentou.
Apesar de existirem várias marcas de coletores e calcinhas especiais, é importante ressaltar que os valores fogem da realidade econômica de muitas brasileiras. Portanto, como as mulheres de comunidades mais carentes fazem nos períodos menstruais?
A ginecologista Ana Helena Mattos disse que elas usam mais paninhos, como antigamente. São toalhinhas higiênicas colocadas e reutilizadas após a lavagem. “É um absorvente externo, mas ele é feito de tecido, como as nossas mães usavam”.
Tabus na menstruação
É raro você encontrar famílias, grupos de amigos, escolas e instituições que falam abertamente sobre a menstruação. Que abordam o assunto para propagar informação e contribuir para o autoconhecimento feminino, sobre o corpo e mudanças hormonais. Mas essa realidade está mudando, segundo a ginecologista.
“As mulheres estão sim trocando de opção, procurando mais e isso denota uma tendência que as mulheres estão tendo em ter mais tranquilidade em se manipular, em se tocar. Antigamente, a mulher mal tocava para lavar, hoje não. Hoje a mulher já é mais curiosa, já pega um espelhinho, olha, se toca sem grandes problemas. E a geração mais nova mais ainda, o que é muito bom e favorece várias outras situações”.
Portanto, é fundamental que as pessoas desmistifiquem essas ideologias e passem a falar com mais naturalidade sobre vários assuntos, como menstruação, sexualidade, DSTs, gestação e gestação indesejada. A partir do momento que a sociedade abrir mais os olhos para essas temáticas, as mulheres terão mais qualidade de vida e vão se livrar de inúmeros bloqueios que são impostos sem necessidade.
Madiamax