Agredida pelo companheiro em 2016, Luiza Brunet diz que quando você sente na pele, o enfrentamento é diferente, e papel da mídia é importantíssimo na conscientização. A atriz, modelo e ativista relembrou durante coletiva, nesta sábado (1°) na CMB (Casa da Mulher Brasileira) em Campo Grande, que demorou uma semana para fazer a denúncia contra o marido com quem se relacionava há cinco anos. E reforçou a importância do papel da mídia na conscientização da causa.
“A mídia de um modo geral – tanto imprensa quanto a novela – amplia a informação, ela chega até quem não tem facilidade nos acessos, ela mostra a realidade, incentiva a denúncia. Isso acrescenta no combate à violência contra a mulher. É um papel importantíssimo na conscientização”, disse Luiza.
Ela é madrinha da campanha estadual de Combate ao Feminicídio, e afirma que o medo é o principal impedimento para que as denúncias aconteçam. “Imagina só, é alguém que te conhece, dorme com você, sabe seus passos. O medo é muito grande. Eu tive medo, demorei 1 semana para fazer a denúncia. O medo ainda é muito forte nas mulheres”, conta.
A modelo e atriz, ressaltou durante coletiva de imprensa, que atualmente não existe classe social, a vítima da violência contra mulher é a rica e a pobre. “Não existe mais isso de classe social, a violência está acontecendo em todas as esferas, mas a mulher de renda mais baixa ela tem mais coragem, a mulher rica ainda tem a vergonha da exposição”.
De fala simples, e muita simpatia, Luiza mostra a força de ser vítima e hoje lutar contra a violência. “O fato de eu ter que lidar com a denúncia desmistificou muito. Ser uma figura pública, traz força para a mulher. Eu sofri bastante preconceito quando denunciei, mas eu decidi seguir em frente, quando você tem uma imagem reconhecida e respeitada, você tem credibilidade, então não dá pra ficar com medo”, explica.
Nascida em Mato Grosso do Sul, a modelo, contou que quando saiu da roça com seus pais para morar em Itaporã, a 225 quilômetros de Campo Grande, e a dificuldade em arrumar emprego fez com que o pai passasse a beber demais. “Quando viemos para Itaporã para que eu pudesse estudar, meu pai não se firmou no mercado de trabalho e passou a beber demais, e agredir minha mãe constantemente. Quando tinha 7 anos, minha mãe pegou os filhos e foi embora, isso me trouxe força quando aconteceu comigo”, contou.
Para Luiza, a história de em briga de marido e mulher não se mete a colher, precisa acabar. “Não existe mais isso de não mete a colher, de não se envolver. Não é mais um problema íntimo, é um problema de todos. A violência contra mulher é crescente no Brasil inteiro, e o final é sempre trágico. Todo mundo precisa se intrometer sim, e denunciar. A denúncia pode ser anônima inclusive”.
Luiza destacou que o que mudou depois das agressões é que hoje ela fala com propriedade. “Eu sou outra mulher, eu senti na pele. Quando você sente na pele você fala com propriedade. E a sororidade é essencial para a mulher que sofreu a violência, precisamos dar a mão, o apoio, estar ali e dizer para aquela mulher que ela vai ser reconstruir”.
Sobre ser ativista da causa, Luiza explica que não cobrar cachê é do ativismo. “O ativista não tem que cobrar para fazer um trabalho como esse tão importante, ativista tem que falar de forma simples e alcançar todos com seu discurso e seu trabalho”, concluiu.
Feminicídios MS
Em 2019, já foram registrados 16 casos de feminicídio em Mato Grosso do Sul. As vitimas tinham entre 17 e 56 anos, três delas indígenas. Quatro moradoras da Capital e 12 do interior.
Campanha
Entre os dias 1 a 7 de junho serão realizadas várias ações como palestras, panfletagens, eventos e debates para discutir o feminicídio como a maior violação dos direitos humanos contra as mulheres.
Segundo as informações, a meta da campanha é multiplicação da informações, para que as pessoas abracem a causa em todos os cantos do Estado, desconstruindo assim a cultura machista e patriarcal existente em nossa sociedade.