As jovens meninas, conhecidas localmente como khilawadis, ou “aquelas que brincam”, esperam nas paradas em camas de corda, em grupo ou sozinhas, para conseguir clientes.
Muitas vezes há pequenas cabines disfarçadas de lojas nas quais ficam os negociadores – normalmente, integrantes da família.
Eles fecham o negócio com os motoristas, normalmente entre 100 e 200 rúpias (entre R$ 5 e R$ 10) por cliente.
Pessoas da região dizem que as virgens atraem o maior preço, indo até 5 mil rúpias (R$ 282).
“Cerca de quatro ou cinco homens vinham por dia. À noite, íamos para hotéis ou lugares por perto.”
“Sempre havia o risco de pegar uma doença”, relembra Heena.
O jornal indiano “The Hindu” apontou em 2000 que amostras de sangue retiradas de 5,5 mil membros da comunidade mostraram que 15% deles estavam infectados com o vírus HIV.
Boa parte das khilawdis também acaba engravidando. Heena deu à luz uma menina e foi forçada a trabalhar ainda mais.
“Muitas meninas acabam grávidas e tem de continuar a se prostituir. São pressionadas a ganhar mais dinheiro para sustentar o filho”, diz Heena.
Ao serem prostituídas, as meninas também são proibidas de casar com um homem da mesma comunidade.
Heena conseguiu sair dessa vida com a ajuda de uma ONG local.
“Apenas uma menina que passa por essa prática maligna consegue entender a dificuldade. Eu sei como é e quero ajudar a acabar com isso.”
Há muitas teorias sobre como a prática se tornou socialmente aceitável na comunidade. Uma delas diz que a antiga tribo nômade tinha dificuldade em conseguir dinheiro pois era estrangeira em todos os lugares, então, começou a prática para escapar da pobreza.
A preferência de indianos por filhos em vez de filhas é tão forte que há muito mais homens que mulheres no país. Mas nessa comunidade o problema é o contrário.
“A comunidade tem cerca de 33 mil pessoas, das quais ao menos 65% são mulheres”, diz Akash Chouhan.
Um dos motivos para isso é o tráfico ilegal de meninas para a região.
“Resgatamos cerca de 50 menores da área nos últimos meses”, disse à BBC o superintendente de polícia Manoj Kumar Singh.
“Encontramos até uma menina de dois anos de idade, que hoje está em um abrigo.”
Manoj diz que a polícia faz operações contra a prática com frequência, mas ela só terá fim com o aumento da consciência social.
Madhya Pradesh, o Estado onde fica a comunidade Bacchara, recentemente aprovou uma lei determinando pena de morte para qualquer um que estupre crianças com menos de 12 anos.
O Estado também aumentou a pena para adultos que fazem sexo com menores de 18 anos – que é a idade legal para o consentimento na Índia.
Mas as medidas ainda não tiveram um resultado visível.
Um longo caminho pela frente
Em 1993, foi criado um plano para eliminar a prostituição de menores entre os Baccharas, mas ele ainda não foi completamente implementado.
“Todos os anos, pedimos ajuda de ONGs para implementar o plano, mas nenhuma delas conseguiu preencher os critérios até agora”, diz Rajendra Mahajan, do Departamento de Bem-estar de Mulheres e Crianças.
Chamado de Plano Jabali, o esquema tem como foco a reabilitação das mulheres por meio da educação, dos cuidados com a saúde e da conscientização.
A mudança vem aos poucos.
Algumas das mulheres mais jovens da comunidade têm desafiado a norma encontrando emprego em outros lugares e continuando a estudar. Também há iniciativas locais que oferecem ajuda.
Heena participa de uma dessas iniciativas – uma que ajudou a resgatá-la em 2016. A ONG tem um centro de treinamento que oferece cursos grátis para as jovens.
“Essas meninas são forçadas a continuar na profissão porque não têm outras opções de emprego”, diz ela. “Só a educação pode ajudá-las a encontrar outro caminho.”
“Eu ajudo outras garotas a entender que elas podem encontrar apoio e sair da profissão. Farei o que for necessário”, diz ela. G1