Um pastor evangélico de 31 anos acusado de estuprar quatro adolescentes que frequentavam a sua igreja na Zona Leste de São Paulo começou a ser julgado nesta terça-feira (8) na capital paulista. Segundo a acusação do Ministério Público (MP), o religioso enganava os fiéis oferecendo “cura física e espiritual” àqueles que fizessem sexo com ele e o “anjo” que dizia incorporar
O julgamento foi realizado Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste. A juíza do caso é a doutora Tatiane Moreira Lima. Foram ouvidas três vítimas, três testemunhas de acusação e duas de defesa. O julgamento foi interrompido porque o advogado do réu fez questão da oitiva de uma testemunha de defesa que não compareceu.
Preso desde setembro, Pedro Jorge dos Santos Teixeira, fundador da Igreja Apostólica dos Mistérios de Deus, em São Mateus, nega a acusação e alega ser inocente.
Segundo a denúncia da Promotoria, feita a partir da investigação da Polícia Civil, os abusos foram cometidos entre 2014 até agosto de 2018, quando os adolescentes tinham entre 14 a 17 anos. O 49º Distrito Policial (DP), onde o caso foi registrado, apura se há mais vítimas.
Duas meninas e dois meninos acusam Pedro de inventar a história do anjo e ainda ameaçá-los de morte para que mantivessem relações sexuais com ele. Contaram que o pastor fingia receber o anjo Camael e prometia uma troca: dizia que a entidade daria crescimento e realizações pessoais a eles se transassem
Pastor é preso acusado de oferecer cura a menores que transassem com ele e seu ‘anjo’
‘Cura’ e sexo
Um dos garotos que fizeram a denúncia gravou vídeo e o encaminhou ao G1 contando que foi abusado pelo líder religioso. “Pedro disse que o anjo Camel [Camael] orientou que eu mantivesse relações sexuais com ele para que essa minha mania pudesse ser extinguida”, disse um estudante de 17 anos, sobre o que o pastor teria lhe dito para acabar com um vício que tinha. Ele não quis revelar, porém, qual era o problema.
“Ingênuo, fui com total confiança naquele homem e acabei caindo nessa enganação, nessa mentira dele. E os abusos aconteceram durante dois anos, dos meus 14 aos meus 16 anos”, continua o menor, que foi autorizado por sua responsável, a avó, a conversar com a reportagem. A condição era a de que o nome e rosto dele não fossem divulgados, respeitando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Antes de ir para a cadeia, o pastor também gravou vídeo para rebater as acusações dos adolescentes. A filmagem foi divulgada nas redes sociais. “Quero dizer a toda a sociedade que eu vou provar na Justiça a minha inocência. Dizer que fui vítima de uma armação”, rebate Pedro em filmagem feita em 21 de setembro, momentos antes de se entregar à polícia.
A juíza Tatiane Moreira Lima, do Setor de Violência Contra Infante, Idoso, Pessoa com Deficiência e Tráfico Interno de Pessoa (SANCTVS), aceitou a denúncia do MP por estupro, estupro de vulnerável e violação sexual mediante fraude.
Defesa
Procurado pelo G1 em novembro, o advogado Nelson Bernardo da Costa, que defende o pastor, negou em novembro as acusações de estupro contra seu cliente. Segundo a defesa, Pedro confirmou que manteve relacionamento apenas com a garota mais nova do grupo, de 15 anos, mesmo assim alegou que os encontros entre os dois tinham o consentimento dela.
“Ele [Pedro] fala que foi vítima de armação por parte de uma moça”, rebate Nelson, que não confirmou se o pastor e a menor mantiveram relações sexuais. “Meu cliente diz que foi relacionamento consensual. Não sei se transaram, mas ele começou a se afastar pela posição dele e idade dela, que é menor”.
Segundo o advogado, após querer pôr fim ao relacionamento com a adolescente, Pedro passou a ser ameaçado pela menor.
“Ela ia à casa dele, mas ele se negou a recebê-la. E ela ameaçou dizendo que iria procurar autoridades. Ela começou a fazer exigências, talvez financeira, e ele tentou sair”, comentou o advogado do pastor sobre uma adolescente de 15 anos que o acusa de estupro.
De acordo com Nelson, após os adolescentes acusarem o pastor pelos supostos abusos, Pedro passou a sofrer ameaças dentro da comunidade e, por esse motivo, se viu obrigado a deixar a região do Jardim Iguatemi. “Meu cliente fugiu porque foi ameaçado de morte”, disse.