Autora de poema que caiu no Enem resolve questão indicando como fugir de erro na interpretação

Autora de poema que caiu no Enem resolve questão indicando como fugir de erro na interpretação

Angélica Freitas, autora do livro ‘Um útero é do tamanho de um punho’, comentou ainda o tema da redação: “saída está com o ‘usuário’: usar menos as redes ou sair delas completamente”

No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018 do último domingo (4), uma pergunta pode ter causado dúvidas a estudantes que resolveram a questão: era o poema “Uma mulher de vermelho”, de Angélica Freitas, do livro “Um útero é do tamanho de um punho”.

O poema fala de uma mulher que está vestida de vermelho e como ela é vista. Segundo a autora, a resposta correta é a alternativa que fala sobre “tentativa de estabelecer preceitos da psicologia feminina”.

“A alternativa A estaria certa se pensássemos no poema em si. Mas a pergunta era a partir do “eu lírico”, explica a autora.

Quem está falando no poema é um homem que vê uma mulher com um vestido vermelho. Ele pensa que ela se vestiu assim porque quer chamar a atenção dele. Então a alternativa correta seria mesmo a C, ele estabeleceu preceitos da psicologia feminina”
— Angélica Freitas

Ler para entender outras realidades

Conhecendo o estilo da prova, a poeta não recebeu com surpresa a inclusão de um texto seu no exame. “Lembro que no ano passado caiu uma letra dos Racionais e algumas pessoas criticaram, porque RAP não é “cânone”. Quando soube que “Mulher de vermelho” caiu na prova, não me surpreendi, achei que fazia parte de uma tendência do Enem de trazer autores e autoras mais recentes, que falam sobre a situação do país”, aponta a poeta.

Ela lembrou que é exigido do leitor a capacidade de se colocar no lugar do outro e entender outras realidades, “não só o seu mundo”, para raciocinar e alcançar as respostas, como ocorreu na necessidade de entender o posicionamento do “eu lírico” no texto.

“A questão sobre o pajubá, por exemplo, é de interpretação de texto, não é que você precise ser fluente num dialeto gay e transexual para conseguir um emprego. Sua habilidade de compreender um código é que está sendo testada”, completa.

Escrever é pensar

Assim como os novos leitores que encontrou na prova, Angélica já compartilhou as angústias das primeiras escolhas de carreira. “Ninguém sabe direito o que quer aos 16, 17 anos. Eu fui estudar Letras porque gostava de ler e escrever. Fiz dois semestres e abandonei. Sempre fui muito inquieta”, lembra.

“Passei alguns meses viajando, lavando louça em restaurantes, e escrevendo até me decidir pelo Jornalismo. Estudei na UFRGS, em Porto Alegre, porque era pública. Eu me virava dando aulas de inglês. Valeu a pena, claro. Escrever é pensar. Para aprender a escrever você precisa aprender a pensar”, conta Angélica.

E o que pensa a poeta sobre o tema da redação, que teve como tema a “manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. Qual seria sua “proposta de intervenção”?

“Não sei se temos alguma chance quanto à manipulação dos algoritmos. Enquanto houver gente enriquecendo com essa manipulação, ela vai persistir. O mundo não está assim? Uma busca obscena pelas novas oportunidades de ganhar muito dinheiro, mesmo que à custa da destruição da saúde das pessoas e do planeta? Então a saída está com o ‘usuário’: é usar menos as redes sociais. Ou sair delas completamente.”
— Angélica Freitas
G1
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