Foi em casa e escondido de todos que Emanoel Nascimento, de 11 anos, deu os primeiros passos na dança. Antes, ele admirava as meninas que praticavam balé na escola e sonhava estar ali, mas bastou um convite da coleguinha para despertar nele todo o talento para a arte. Nesta terça-feira (23), um dia após chegar de Joinville (SC), com a notícia de que será um integrante do Bolshoi do Brasil, a criança diz que “não consegue nem explicar a felicidade”.
“Eu ficava treinando em casa, até que um dia a minha amiga me chamou. Eu já fazia outras atividades na escola, como flauta e atletismo, mas o balé eu me apaixonei. Queria ser bailarino e agora não consigo nem explicar a minha felicidade. Minha mãe não entende nada, mas eu fico fazendo espacate, sapinho, borboleta e cabeça no joelho”, diz ao G1Emanoel.
Além da dança, ele também passou por testes de português, matemática, habilidades artísticas e o exame médico. “Nós cantamos as notas musicais também. No começo, fiquei com medo, só que depois ficava repetindo que iria dar o melhor melhor, dizendo: eu posso, eu quero e vou conseguir. Só depois que minha mãe disse que eram 5,8 mil candidatos no teste”, ressaltou o menino.
A mãe do bailarino, a manicure Candelária Clara do Nascimento, de 35 anos, conta que percebeu o talento do filho na primeira apresentação dele na escola, há um ano. “Na verdade, este resultado eu já estava esperando. Ele fazia outros esportes na escola e começou o balé um mês antes, sem me falar nada. Em seguida, chegou em casa dizendo que precisava de comprar uma roupa para apresentação, só aí que fiquei sabendo”, relembrou
Incentivo e bullying
Naquele dia, ao chegar na Escola Municipal Elizabel Gomes Sales, bairro Santa Luzia, região norte da cidade, ela diz que assistiu com atenção e, desde então, passou a incentivar cada vez mais. “Eu falei para ele que não tinha como continuar fazendo vários esportes, então que ele deveria optar somente pelo balé”.
Candelária, que cria sozinho o menino ao lado do irmão de 15 anos, diz que está se organizando para a mudança. “O pai dele eu não tenho notícias, apenas registrou e sumiu no mundo. Tenho outras filhas mais velhas, porém já são casadas. Agora o meu adolescente vai ficar com a avó materna, por enquanto. Vou ver uma casa para alugar, será uma mudança muito grande em nossas vidas. A ficha não caiu ainda, mas, estaremos lá”, ressaltou.
Talento visível
Já nas primeiras aulas, quem também percebeu o talento do menino foi a professora de balé Thais Cristine de Oliveira, de 34 anos. Ela conta que atua em várias modalidades de dança, porém a intenção maior não era formar um bailarino de alto rendimento, mas, sim atuar na coordenação motora, ritmo e na formação da cidadania das crianças.
“Não temos barra e nem os equipamentos necessários na escola, mas, como surgiu a oportunidade, acabamos abraçando a causa para mudar a vida dele, assim como da outra aluna que foi com ele, só que ela não conseguiu passar. E eu o descobri com seu talento visível no ano passado, até por ser raro os meninos fazerem e já era um diferencial. Em seguida, teve a pré-seletiva aqui, deu certo e então fomos para o outro estado. Tudo o que ele tem, boa postura, flexibildade e vontade de ser bailarino foi visto e deu certo”, finalizou.
Ao todo, a seleção teve participação de 22 estados brasileiros, Distrito Federal e Argentina, com exames médicos fisioterápicos e artísticos. Foram aprovadas 40 crianças, que iniciam na primeira série, e oito adolescentes, que vão para as séries mais avançadas.
De acordo com a Rede Municipal de Ensino (Reme), os alunos classificados serão bolsistas e poderão ingressar no curso de dança clássica, com duração de até oito anos, com início em fevereiro. Entre outros benefícios, também serão oferecidos benefícios como alimentação, transporte, uniformes, figurinos, assistência social, orientação pedagógica, assistência odontológica preventiva, atendimento fisioterápico, nutricional e assistência médica de emergência pré-hospitalar.