Morre o diretor de Redação do jornal Folha de S. Paulo, Otavio Frias Filho

Otavio Frias Filho era diretor de redação do jornal Folha de S. Paulo

Morreu nesta terça-feira (21/8) o diretor de Redação do jornal Folha de S. Paulo, Otavio Frias Filho, aos 61 anos. Ele sofria de câncer no pâncreas. Formado em Direito pela Universidade de São Paulo (USP), em 1980, eleito orador da turma, foi, desde cedo, designado por seu pai, Octavio Frias de Oliveira, proprietário do jornal, para comandar a redação.
Começou a atuar no dia a dia das notícias em 1975, inicialmente assessorando Cláudio Abramo, que dirigia a redação. Em 1977, passou a fazer parte da equipe de editorialistas do jornal. Em 1978, foi designado secretário do recém-criado Conselho Editorial da Folha.

Em 1984, quando Boris Casoy deixou a diretoria de Redação, Frias Filho assumiu o cargo. Segundo suas declarações, a proposta era “valorizar os aspectos mais técnicos, mais profissionais do jornalismo, em detrimento da ideologização e da politização dominante”. À frente da posição máxima na estrutura editorial, foi responsável pela introdução do Projeto Folha, com objetivo de levar aos leitores um jornalismo crítico, apartidário e pluralista, linha mantida até hoje.
Esses princípios nortearam também o Manual da Redação, lançado em 1984 e atualizado desde então. Mais que um manual de estilo, um conjunto de normas e compromissos assumidos pelo jornal, foi o primeiro livro do gênero colocado à disposição do público. Continha uma série normatizações de procedimentos, despolitização, garantia de manifestação das diversas versões que comportam um fato. A partir da implementação do manual por Frias Filho, o texto do jornal tornou-se impessoal, descritivo, rigoroso. Foram também introduzidos recursos gráficos nas matérias que passaram a contar com mapas, tabelas, gráficos.
Recebeu, em 1991, em nome do jornal, o prêmio Maria Moors Cabot de Jornalismo, da Universidade de Columbia (EUA). De 1994 a 2004, passou a escrever uma coluna semanal publicada na página de opinião da Folha de S. Paulo às quintas-feiras Em 2000, a coluna virou o livro de coletâneas De Ponta-cabeça. Consolidado o jornal, o Grupo passou a investir em novas tecnologias e, em 1996, lançou o UOL (Universo Online S/A).
Em entrevista a Jornalistas&Cia, em 2005, para estreia da seção Protagonistas da Imprensa Brasileira, ao ser perguntado se a Folha será a mesma após sua atuação à frente do jornal que leva seu DNA, Frias respondeu: “Difícil prever. Mas não atribuo, digamos, sem falsa modéstia, um papel tão preponderante à minha atuação. Isso faz parte um pouco da cultura geral do jornal da qual eu e várias pessoas que estão aqui proviemos. E penso que isso se adensou ao longo do tempo com a prática de ser um jornal que respeita a controvérsia, que sempre publica pontos de vistas contrastantes, contestações. (…) Acredito que esse espírito de certo modo tenha deitado raízes suficientes na Folha para sobreviver à presença das pessoas que têm feito o jornal até hoje.”

Dramaturgo

Além da atuação no jornalismo, Frias Filho se dedicava à literatura. Escreveu as peças de teatro Tutankaton, Típico Romântico, Rancor, Don Juan e Sonho de Núpcias. Também publicou livros com ensaios sobre cultura e política, além de reportagens. Em 2002, a peça Sonho de Núpcias foi apresentada na 1ª Mostra de Dramaturgia de São Paulo, promovida pelo Sesi.
Em 2003, lançou o livro Queda Livre, uma série de reportagens, entre elas, o relato de sua experiência como ator e o pavor ao entrar em cena, situação vivida na peça Boca de Ouro, dirigida por José Celso Martinez Corrêa. Em 2009, publicou pela Publifolha Seleção Natural – Ensaios de Cultura e Política, reunião de 25 textos sobre teatro, cinema e jornalismo, escritos em 25 anos.
Em literatura infantojuvenil é autor de O Livro da Primeira Vez (Cosac Naify, 2004). Participa ainda de duas coletâneas de contos para crianças, O Livro dos Medos (1998) e Vice-versa ao Contrário (1993), ambos publicados pela Companhia das Letrinhas.
Na obra Cinco Peças e Uma Farsa, com fotografias de Lenise Pinheiro, texto de orelha de Fernando de Barros e Silva e quarta capa de Fernanda Torres, apresenta em linguagem seca e direta, dramas recorrentes das práticas do poder e da guerra dos sexos, temas que discutem da tragédia à farsa no mundo.
Quando a Folha de S.Paulo completou 90 anos em fevereiro de 2011, Frias Filho fez um pronunciamento no evento de aniversário e disse que “o jornal é resultado de ‘sucessivas gerações’ e de ‘de homens e mulheres, muitas vezes anônimos’, que fizeram da Folha o que ela é”. Ele citou outros jornalistas e o pai, Octávio Frias de Oliveira, o criador da ‘Folha moderna’, que chamava de ‘Sua Excelência”, o leitor.
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