Quando o filho Henry Cejudo subiu no lugar mais alto do pódio na Olimpíada de Pequim-2008 com apenas 21 anos, ela não estava ali para ver. Nelly Rico ainda era uma imigrante ilegal nos Estados Unidos e não poderia atravessar o mundo para acompanhar de perto o momento mais importante da vida do jovem Henry até então sem ter problemas com a polícia norte-americana. Dez anos depois e em meio a uma crise migratória no país, a família Cejudo chegou ao auge novamente, com Henry destronando uma lenda do UFC.
Henry Cejudo fez história ao vencer Demetrious Johnson na madrugada de domingo (05), no UFC 227, em Los Angeles, e conquistou o cinturão dos moscas. É o primeiro campeão olímpico a ganhar o cinturão do Ultimate. A lenda Johnson foi derrubada após conseguiu manter o título por 11 vezes.
Em 2008, já havia sido o norte-americano mais novo a conquistar o ouro na luta livre. A medalha olímpica de ouro de Henry Cejudo foi vista pela mãe por um laptop na época. Agora a mexicana que criou sete filhos sozinha pode enfim acompanhar de perto o triunfo.
Nelly Rico deixou o México rumo aos Estados Unidos há 40 anos por uma chance de vida melhor. O filho Henry Cejudo nasceu em Los Angeles, mas os pais eram imigrantes ilegais. A última vez que o lutador do UFC viu o pai foi aos 5 anos de idade. Com problemas com drogas e alcoolismo, ele deixou a família. A mãe preferiu se mudar com os sete filhos para o Novo México, depois para Phoenix e por fim para Colorado Springs.
O esporte logo passou a ser um objetivo de vida para mudar a vida da própria família e espalhar a mensagem de luta a outros. Não à toa que Cejudo é chamado de “The Messenger” no UFC, o Mensageiro.
“Eu sei que quando viro um modelo, vou para outro nível. Eu posso mudar o jogo. Nossas vozes são poderosas. Quero usar a minha para o bem. A luta, o MMA, ganhar a Olimpíada é uma plataforma para eu ajudar as pessoas. Eu tenho o objetivo de ter uma vida significativa para preencher isso. Ser campeão é maravilhoso, mas o mais importante é ser uma inspiração para as pessoas”, falou em 2015 à imprensa norte-americana.
O UFC
O talento na luta livre foi reconhecido e a promessa foi além. Após a medalha olímpica, decidiu deixar a modalidade em 2012 rumo ao MMA. Em 2014 assinou com o UFC. Hoje, ele lembra da família para exaltar a vitória.
“Isso é surreal. É uma criança que nasceu longe, no gueto de Los Angeles, filho de imigrantes mexicanos, que se torna campeão olímpico aos 21 anos. Minha mãe não pode ir aos Jogos Olímpicos por causa da situação dela com a imigração. Ela conseguiu virar cidadã dos Estados Unidos há uns 8 anos e eu, agora, 10 anos depois, consegui o cinturão do UFC. É realmente um sonho se tornando realidade. Em 19 de agosto de 2008 eu me tornei o mais novo da história a ganhar uma medalha de ouro olímpica e em 4 de agosto de 2018, eu derrotei um cara, um mito, a lenda Demetrious Johnson. É muito bom”, disse o novo campeão dos moscas.
“Eu tinha três objetivos na minha vida quando eu tinha 17 anos. Eu anotei meus objetivos: ser um bom marido e um bom pai, um campeão olímpico e ser um campeão do UFC. Eu fiz dois dos três”, ressaltou.
Quase morreu afogado no Rio de Janeiro
Henry Cejudo adora o Brasil. Veio ao país em várias oportunidades para treinar MMA, mas bem antes disso, antes mesmo até de ser campeão olímpico, aprendeu português com Patricia Miranda, americana medalhista de bronze em Atenas e filha de pais brasileiros. Cejudo treinou com Patrícia antes de ir a Pequim em 2008.
A história com o Brasil só ficou mais próxima. Em 2007 a glória da conquista do ouro no Pan do Rio de Janeiro quase virou tragédia. Em recente entrevista ao SporTV, Cejudo contou que dias após ganhar o ouro no Pan foi curtir a praia de Copacabana e quase morreu no mar. Precisou ser salvo por dois brasileiros na ocasião.
INCÊNDIO