Caso Pesseghini faz 5 anos e família leva à OEA ‘provas’ para reabrir inquérito

O casal de policiais militares Andréia Regina Bovo Pesseghini, de 36 anos, e Luís Marcelo Pesseghini, com o filho, Marcelo Pesseghini, de 13 anos (Foto: Reprodução/TV Globo)

O casal de policiais militares Andréia Regina Bovo Pesseghini, de 36 anos, e Luís Marcelo Pesseghini, com o filho, Marcelo Pesseghini, de 13 anos (Foto: Reprodução/TV Globo)

Após cinco anos, advogados dos avós paternos de Marcelo Pesseghini informam ter procurado a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington (EUA), para tentar reabrir o caso da chacina da família dele em São Paulo.

A investigação policial foi arquivada ao concluir que o estudante Marcelinho, de 13 anos, baleou e matou o pai e a mãe policiais militares, a avó materna e a irmã dela, tia-avó do adolescente. Em seguida, ele se suicidou com um tiro na cabeça no dia 5 de agosto de 2013. Todos morreram na casa onde moravam na Zona Norte.

Nenhum vizinho, porém, ouviu os disparos que mataram o garoto; o pai dele, o sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Luís Marcelo Pesseghini, de 40 anos; a mãe, a cabo Andréia Bovo Pesseghini, de 36; a avó materna, Benedita de Oliveira Bovo, 67; e sua tia-avó Bernadete Oliveira da Silva, 55.

A arma usada foi uma pistola .40 de Andréia. Todas as vítimas estavam dormindo, segundo a polícia. O motivo do crime, de acordo com laudo psiquiátrico, foi uma doença mental que levou Marcelinho a acreditar que era o personagem do game Assassins Creed, um assassino profissional.Marcelo Pesseghini colocou a foto do personagem do jogo Assassins Creed um mês antes do crime cometido em 2013 (Foto: Reprodução/Arquivo)

Avós paternos

Mas essa versão oficial da Polícia Civil não convenceu o casal Maria José Uliana Pesseghini, 68, e Luís Pesseghini, 69, respectivamente avó e avô de Marcelinho. Por telefone, eles, que moram em Marília, interior paulista, conversaram nesta semana com o G1.

“É lógico que não foi meu neto”, fala a dona de casa Maria. “Vai completar cinco anos em 5 de agosto. Choro muito ainda. Ele jamais iria fazer isso com a mãe dele, o pai dele e os avós”.

O que faz Luiz acreditar que Marcelinho não matou a família é o temperamento do neto. “Ele era tímido, dócil”, diz o avô. “A investigação só se preocupou em acusar o menino ao invés de procurar quem seria o verdadeiro assassino”.

A advogada Roselle Soglio, contratada para de defender os interesses dos avós paternos, afirma que já encaminhou documentos à CIDH da OEA que comprovariam a inocência do neto deles na tragédia que comoveu o Brasil e ainda gera dúvidas, segundo ela.

“Nesses cinco anos que se passaram, a população toda sabe que houve uma injustiça em relação ao caso Pesseghini”, diz Roselle. “A única solução nesse caso é a comissão internacional da OEA.”

De acordo com a advogada, o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) apontou Marcelinho culpado desde o início e deixou de investigar outros prováveis suspeitos pela chacina.

Em 2017, vizinhos dos Pesseghini disseram ao G1 que ouviram no bairro que policiais militares poderiam ter executado a família. Veja reportagem da época abaixo:

Caso Pesseghini: 4 anos depois, vizinhos e família falam sobre chacina na Brasilândia
“Desde que a família decidiu tomar essa atitude, nós fomos à frente. São passos devagar”, fala Roselle, que aguarda posicionamento da Comissão da OEA sobre o material entregue com pareceres técnicos e vídeos do caso Pesseghini analisados por um perito particular dos Estados Unidos.

Segundo Roselle, caso o órgão internacional aceite os documentos, uma comissão deverá ser criada para vir ao país investigar a morte da família. “Mas isso depende da documentação e ainda vai depender também dessa pré-análise que eles estão fazendo, mas tenho certeza e confio na comissão internacional”, espera a advogada.

Roselle espera que a CIDH encaminhe o caso Pesseghini à Corte Interamericana de Direitos Humanos. “O objetivo é que a Corte condene o Brasil por ser omisso às provas do caso, além de pedir que interceda para retirar o nome de Marcelinho como culpado e que a investigação seja reaberta”.

Ela também admite a possibilidade de denunciar o caso ao Tribunal Internacional de Haia. Antes, já teve negado pedidos de reabertura da investigação no Brasil, quando procurou a Vara da Infância e Juventude, Tribunal de Justiça (TJ), ambas em São Paulo, e Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília. Segundo a advogada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF), todos na capital federal, também não responderam as solicitações para reabrir o caso.

Polícia
No ano passado, o DHPP informou ter depoimentos e laudos de balística que provam que Marcelinho assassinou a família e se matou. Como o assassino morreu, segundo a polícia, a investigação encerrou o caso e o arquivou sem responsabilizar mais ninguém.

Ainda segundo o Departamento de Homicídios, após matar a família com a arma da mãe, ‘Marcelinho’ pegou o carro dela, um Corsa, e o dirigiu até a rua do colégio onde estudava. Câmeras de segurança gravaram o veículo chegando e o adolescente saindo dele.

O local fica distante cerca de 5 km de onde morava. Ele dormiu dentro do automóvel e então foi para a aula. Lá, contou para os amigos que havia matado a família, mas ninguém acreditou nele. Em seguida, pegou carona com um amigo no carro do pai deste e voltou à residência, onde se matou.

Parecer técnico dos Estados Unidos, de um perito particular contratado pela advogada dos avós paternos de ‘Marcelinho’, aponta ter ocorrido ‘manipulação’ em um vídeo que serviu para a polícia culpá-lo pela chacina da família em São Paulo.

Um vulto não identificado próximo a ‘Marcelinho’ poderia ser o verdadeiro assassino, segundo Roselle. Um vídeo obtido pela advogada também mostra testemunhas contando que a morte dos Pesseghini poderia estar relacionada a uma possível execução.

À época do crime, Roselle comentou que a mãe de ‘Marcelinho’ pretendia revelar a seus superiores na Polícia Militar a descoberta de um esquema de corrupção envolvendo policiais militares. Onde o filho dela estudou tinham outros alunos dos quais os pais eram PMs.

Além disso, a arma do crime teria sido encontrada na mão esquerda do garoto, mas ele seria destro. G1

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