Infiltrados, uso de redes sociais e espírito “polícia contra bandido”. A tríade é usada para esclarecer a autoria de oito a cada dez crimes contra a vida em Campo Grande. Na lista, entram casos de homicídio, latrocínio, feminicídio, além das tentativas.
A missão de se infiltrar em cenários de crimes para chegar ao autor em 72 horas cabe aos policiais do GOI (Grupo de Operações e Investigações), que em 18 de julho comemora o primeiro ano de aniversário.
O departamento ocupa parte de uma delegacia. A sala de trabalho tem cenário enxuto: uma mesa retangular, cadeiras, computadores, armas e munições. Na mesa, ao alcance da mão, a caneta esferográfica tem um curioso dispositivo antifurto: tampa em formato de flor.
Para se chegar a autoria do crime em 72 horas, prazo limite até que provas e interesse em colaborar arrefeçam, parte da equipe vai identificada e acompanha o trabalho da perícia. Enquanto os demais se misturam aos populares. No disse me disse das ruas, sempre há quem viu o crime, conhece a vítima ou eventuais motivos para o homicídio. As redes sociais e arquivos eletrônicos dos mortos também são verificados e ajudam a esclarecer homicídios.
De acordo com o GOI, a maioria dos crimes contra a vida tem ingrediente passional, que contempla, por exemplo, de relações amorosas à raiva. Como um homem que esperou cinco anos para vingar a morte de um parente, ou uma pessoa, que após ser destratada por um comerciante, planeja um roubo que acaba em morte. Na sequência das motivações, aparece o tráfico de drogas, com tribunais de execução comandados por facção criminosa que lembra grupos extremistas.
Quando não há testemunhas, como um corpo encontrado no Inferninho, ponto “tradicional” de desova na zona rural de Campo Grande, a pesquisa começa pelos desaparecidos. No caso de uma vítima de feminicídio, o corpo foi encontrado às 16h e a autoria esclarecida na manhã do dia seguinte.
As equipes, em escala de revezamento, trabalham 24 horas, incluindo fim de semana e feriados. Além de Campo Grande, eles se deslocam para delegacias no interior do Estado para ações de combate ao tráfico de drogas, realizar atividades de inteligência e operações policiais.
Segundo o decreto de criação do GOI, para ingressar no grupo o policial deve passar por criteriosa análise do perfil profissional e da capacitação, avaliação psicológica e investigação social. Na prática, é preciso ter mais de três anos de experiência em investigação e assimilar o espírito da atividade, que nem sempre termina junto com o plantão. “É polícia contra bandido”, diz um investigador. Em Campo Grande, o índice de esclarecimento de autoria é de 79%. No Estado, 65%. E um ano, o grupo fez 360 prisões.
A pedra no sapato segue sendo execuções por pistolagem, que, apesar do avanço da tecnologia, seguem na balada do crime perfeito, com ações rápidas, letais e destruição de provas. Informações ao GOI podem ser repassadas por meio dos telefones (67) 99987-9035 e 99987-9079
Short, barba e camisa – O serviço do atual GOI cabia ao SIG (Serviço de Investigação Geral), que foi reativado em 2010 pelo delegado Fernando Lopes Nogueira, então chefe da 5ª delegacia de Campo Grande.
Agora ouvidor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), ele conta que os bairros atendidos pela delegacia tinha grande número de homicídios, mas a resolução não era a contento.
“Nós montamos uma força-tarefa e as estatísticas começaram a aparecer quando passamos a usar policiais à paisana, agentes infiltrados. De short, barba, camisa. A população ou sabe quem matou, ou tem alguma informação, algum detalhe. Mas se chega fardado, eles se calam”, afirma o delegado.
Sou da Paz – A taxa de homicídios em Mato Grosso do Sul, calculada a cada 100 mil habitantes, teve redução de 15,8% na série histórica de dez anos, entre 2006 e 2016. Os dados são do Atlas da Violência, divulgado em maio.
Já um estudo sobre a impunidade no Brasil, publicado no fim de novembro de 2017 pelo Instituto Sou da Paz mostra Mato Grosso do Sul com a maior taxa de homicídios elucidados do país, 55,2% dos casos foram resolvidos em 2016. A expectativa é chegar mais de 60% dos casos resolvidos.
Apenas seis Estados foram capazes de fornecer dados à pesquisa sobre a taxa de crimes de homicídio solucionados: Pará (4%), Espírito Santo (20%), Rondônia (24%), São Paulo (38%), Rio (12%) e Mato Grosso do Sul (55,2%).
Campo Grande News