O ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo, conhecido como Orlando de Curicica, foi transferido na manhã desta terça-feira (19) de uma cadeia estadual no Rio para o presídio federal de segurança máxima em Mossoró (RN).
Curicica foi apontado por uma testemunha como tendo tido participação na morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março.
Testemunha revelada pelo jornal O Globo teria implicado Curicica e o vereador Marcello Siciliano (PHS) em depoimento prestado de forma espontânea. Ela teria procurado a Polícia Federal para contar sobre a participação dos dois na morte da vereadora, que ainda não foi desvendada pelas autoridades do Rio.
Siciliano e Curicica negam envolvimento. A defesa do ex-PM afirma que a transferência é ilegal e promete recorrer da decisão judicial. Curicica está preso desde outubro do ano passado. Ele é apontado como chefe de uma milícia que atua em Jacarepaguá, zona oeste.
Curicica responde a dois processos criminais, um pelo homicídio de um dono de circo que teria se recusado a pagar pedágio ao miliciano para instalar seu show no bairro e um segundo por porte ilegal de armas.
É no âmbito desse segundo processo que Curicica teve sua transferência determinada pela justiça do Rio. A defesa alega ilegalidade no pedido, já que o crime de porte de arma é de menor potencial ofensivo.
A testemunha que implicou o ex-PM e o vereador teve sua identidade mantida sob sigilo pela polícia. A Folha apurou que se tratava de um miliciano que também atua na zona oeste. Ele teria colaborado ainda com outros inquéritos investigados pela polícia sobre milicianos no estado do Rio.
O relato da testemunha, que diz ter presenciado ao menos quatro diálogos de Siciliano e Curicica em que teriam tramado a morte da vereadora, foi revelado em maio. Até então, a Polícia Civil ainda não tinha encontrado indícios contundentes da autoria do crime.
Após investigações, a polícia descobriu que a testemunha poderia ter alguma ligação com a família Brazão, que atua na política fluminense há mais de uma década.
Estaria havendo, segundo reportagem publicada pelo portal G1, uma disputa pela liderança da influência política entre o grupo de Brazão e de Siciliano na zona oeste.
Siciliano teria avançado em áreas na zona oeste que eram currais eleitorais da família Brazão, cujos líderes são o ex-deputado Domingos Brazão (MDB) e seu irmão, o vereador Chiquinho Brazão (MDB).
Não está claro ainda onde o caso Marielle se encaixa na disputa política dos Brazão com Siciliano. Há a suspeita de que a delação da testemunha tenha sido feita com o objetivo de favorecer ao jogo de interesses da família Brazão.
Em depoimento na última segunda-feira (18), Domingos Brazão negou conhecer a testemunha, assim como negou participação no caso Marielle e qualquer disputa com Siciliano na zona oeste.
Quando da morte da vereadora, a polícia investigou diversos vereadores com suspeita de ligação com a milícia. Um colaborador de Marcello Siciliano tido como uma liderança comunitária da zona oeste foi assassinado dias depois de prestar depoimento no caso Marielle. Carlos Alexandre Pereira, conhecido como Cabeça, foi morto a tiros em um bar no bairro de Boiúna, zona oeste, em abril.