Muitos milionários do mundo chegaram a essa condição recebendo heranças. Não é o caso de Zhou Qunfei, a mulher mais rica do mundo no ranking daqueles que conquistaram sua própria fortuna sem receber heranças, compilado pela revista norte-americana Forbes.
Qunfei é o que os americanos chamam de “self-made woman”, ou seja, uma mulher que conquistou sua fortuna por conta própria.
Com um patrimônio estimado em US$ 7,1 bilhões (cerca de R$ 24,8 bilhões), Qunfei é a fundadora e diretora executiva da empresa Lens Technology, uma companhia que desenvolve, fabrica e vende as telas de vidro utilizadas em celulares, tablets e computadores. Entre as clientes da Lens estão gigantes como a Apple e a Samsung.
Aos 48 anos, Qunfei comanda um império que movimenta cifras bilionárias. Segundo as projeções de mercado, a fortuna deve continuar crescendo.
Caçula de uma família de três filhos, Zhou Qunfei nasceu em um povoado agrícola da província de Hunan, no sul da China. A infância não foi nada fácil: ela perdeu a mãe aos cinco anos de idade, e o pai ficou quase cego após um acidente de trabalho quando ela ainda era criança.
Ajudando na criação de porcos e patos numa granja, Qunfei teve de aprender a sobreviver em condições duríssimas. Aos 16 anos, deixou a escola para trabalhar em tempo integral.
Ela então trocou a zona rural pela metrópole de Shenzhen (hoje com 12,5 milhões de habitantes, população equivalente à de São Paulo). O primeiro emprego foi numa fábrica de vidros para relógios, onde ela ganhava US$ 1 por dia.
Qunfei cresceu rapidamente na empresa e logo chegou a um cargo de chefia. Depois de algum tempo na posição, aos 22 anos, ela decidiu que iria montar seu próprio negócio.
A ligação da Motorola
Com suas economias e com a ajuda de parentes, ela instalou uma fabriqueta no apartamento de três quartos onde vivia. Junto com a família, Qunfei começou a fabricar vidros para relógios – o nicho no qual tinha se especializado.
Qunfei dedicou um bom tempo a melhorar as complexas técnicas necessárias para obter as telinhas de reduzida espessura e alta qualidade empregadas nos aparelhos.
Esta era a atividade de Qunfei quando ela recebeu uma ligação da fabricante Motorola, perguntando se ela estaria disposta a ajudar no desenvolvimento de uma tela de vidro para celulares.
Naquela altura, no começo dos anos 2000, a tela da maioria dos celulares era de plástico – a Motorola queria produzir algo mais resistente e de melhor qualidade.
“Meu maior desafio foi vencer meus rivais e conseguir o contrato com a Motorola”, relembra a empresária, em uma entrevista a jornalistas.
Pouco depois, em 2007, a Apple lançaria a primeira versão do smartphone que popularizou o conceito no mundo, o iPhone. E a Lens Technology foi escolhida para fornecer as telas.
A empresa de Qunfei tinha acabado de chegar à “primeira divisão”.
Do Vale do Silício a Seul
“No período de rápido crescimento da China, o país estava cheio de oportunidades para empreendedores, inclusive mulheres”, disse Qunfei ao jornal australiano The Australian Financial Review.
A analista Huang Yasheng, do Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT, na sigla em inglês), lembra que a história de Qunfei se passa no contexto de toda uma geração de empreendedoras que começaram de baixo.
O Partido Comunista chinês nunca colocou obstáculos para as mulheres prosperarem quando o capitalismo começou a se disseminar na China, nos anos 1990, diz Yasheng.
Ao invés disso, o país estimulava a criação de novas empresas, e Qunfei tinha as melhores credenciais para comandar uma delas. Num momento simbólico, a empresária foi a anfitriã do presidente chinês Xi Jinping quando ele visitou a sede da companhia, recentemente.
Zhou é vista no país como uma representação do esforço e da dedicação dos chineses ao trabalho.
“Meu pai tinha perdido a visão. Então, se deixássemos alguma coisa em algum lugar, tinha de ser o local correto, exato, ou poderia haver um acidente”, conta ela. “É esta atenção aos detalhes que eu exijo no trabalho”, diz Qunfei.
Atualmente, os principais clientes da Lens Technology são a americana Apple e a sul-coreana Samsung. Isto faz com que Qunfei viaje continuamente para o Vale do Silício, na Califórnia (EUA), e para Seul, na Coreia do Sul. E ela usa seu jato particular para as viagens.
Nem o avião particular ou as viagens estavam em mente quando ela criou a empresa no apartamento de três quartos, aos 22 anos.
Agora que a China se prepara para entrar na disputa tecnológica, Qunfei parece ser o tipo de empreendedor de que o país precisa para competir no mercado global.