Foram exatos nove anos em que, de domingo a domingo, o borracheiro Rubens José Miranda Barboza, 59 anos, dividia o tempo entre consertar pneus e bater massa. O resultado de todo o esforço e suor foram três lances de escada na avenida Tamandaré, que dão vista privilegiada de Campo Grande, todos os dias depois do jantar.
Mas o “ritual” não é nenhum tipo de comemoração pelo esforço. Apenas uma maneira de contemplar o que hoje é morada.
Nascido em Campo Grande, Rubens começou como borracheiro no estado vizinho, São Paulo. Porém, preferiu não ficar longe de suas raízes e voltou com a esposa ao Estado. A princípio, a borracharia, montada com muito esforço, era no Centro, mas os constantes roubos o fez querer mudar para onde está há 30 anos.
O lugar era ainda um terreno de esquina, mas ali ele já vislumbrava o que seria trabalho e casa. “Pedi a um engenheiro que fizesse um projeto onde poderia aproveitar o máximo possível de área externa para a borracharia, devido aos veículos grandes”, lembra.
Ao atender a exigência, o projeto já mostrava que a casa precisaria ser erguida em andares. Entretanto, para que saísse do papel rabiscado, Rubens sabia que iria ralar muito. “Trabalhei de domingo a domingo por 9 anos. Sem folga. Enquanto não tinha cliente, eu e o pedreiro batíamos massa para dar forma a tudo isso”, recorda.
Hoje, a edificação com fachada amarela e parte de pisos de cerâmica recém-colocados na parede são provas vivas de que todo o esforço contado foi recompensado. De fora, três janelas dão ideia do que pode ser uma sala. Logo acima uma sacada denuncia outro andar. Ainda de quebra, o telhado com placas solares prova que também não falta tecnologia.
Por dentro – No primeiro “andar”, a borracharia, que recebeu piso de pedra, para suportar o enorme atrito das grandes máquinas automotivas, tem área de estacionamento e manobra, além do galpão onde Rubens trabalha. Ali mesmo é possível ver a escada, que dá acesso à casa. Mas o proprietário não permite muitas fotos internas.
A construção lembra casas que são erguidas aos poucos, em zonas periféricas. Os degraus levam direto para o meio do que é cozinha e sala. O espaço é amplo. Enquanto de um lado o cômodo tem geladeira, fogão e mesa o outro se estender em “L” com sofás e TV.
É hora de subir mais escadas. Está agora leva para o quarto de Rubens e da esposa, e depois ao da filha. Os dois quartos ficam entre uma espécie de “salinha”. Ela dá exatamente para a varanda, onde Rubens faz questão de sentar todos os dias depois de jantar. “Fico olhando a cidade. É gostoso. O ar fresco e a vista”, descreve.
Para leigos sobre o que o lugar reserva, a vista apresentada dali estava perfeita. Contudo, Rubens insiste que “dava para subir mais”. O último lance de escada, onde para subir é preciso se encurvar, mostra o terraço ainda pouco explorado.
Lá, vasos de rosas da esposa colorem e alegram um pouco o lugar, que é usado como depósito da casa e da borracharia. Mas, é por cima do muro que a verdadeira beleza está. A visão de Campo Grande é panorâmica, privilegiada. E Rubens adianta que “de noite isso aqui fica tudo iluminado” apontando para os prédios na direção do “centrão”.
Questionado, ele diz que “construção nenhuma termina”. Então, pretende acabar de revestir toda a fachada da casa com o piso de cerâmica, pois está ficando velho e aí não precisará mais pintar o lugar quando a pintura começar a desbotar de novo. Campo Grande News