Esta história foi contada de forma confidencial por uma senhora cassilandense, cuja exigência única é que os nomes fosse mantidos em sigilo. Por mais absurda que possa parecer, a narrativa é rica em detalhes e demonstra que a zoofilia já foi capaz de produzir o que ela chama de “amor verdadeiro”.
“A égua nem era muito bonita, tinha a barriga arredonada e baixa, não se tratava de um animal alinhado e de porte”, contou em detalhes essa personagem no alto de seus setenta e poucos anos, de cabelos grisalhos, olhos claros, de estatura mediana. Às vezes sua voz saía trêmula, numa fala bem devagar.
Ela disse que, no início, achou aquilo um verdadeiro absurdo. Mesmo após quatro anos de namoro com o homem que se tornaria o seu esposo, pensou que o conhecia, mas não.
“Ele foi muito romântico e respeitador no nosso namoro, nunca me tocou, beijo nem pensar”, continuou a senhora, lembrando que ambos moravam em fazendas, uma vizinha da outra. “O máximo permitido por nossos pais, muito rígidos, era pegar na mão, no máximo isso”, disse.
A mulher contou que o casamento foi uma grande festa, ambos passeavam sobre a égua que ele a chamava de “Roxinha”, por sinal o único meio de transporte naqueles difíceis anos 60.
Após a lua de mel, ela sentia muito mais o cheiro da égua nas roupas e pele do esposo do que o próprio aroma de homem. “Mas demorei para perceber que havia algum caroço naquele angu, pois se a gente anda de cavalo é normal ficar com o cheiro até o primeiro banho. O problema é que ele tomava banho a cada dois ou três dias, tinha aquele cheiro forte de suor por causa do trabalho pesado na roça e no serviço de tirar leite e pastorear vacas e cabras. Por amor eu suportava aquele homem que cheirava mal, mistura de suor com o cheiro da égua.”
Ela detalhou que num certo domingo levou o maior susto de sua vida. “Quando cheguei no mangueiro, já eram umas sete horas da noite, vi o meu marido mantendo relações com a égua. O que mais me irritou é que a bicha era mansa e gostava, e, para meu espanto, meu marido, que para mim era um homem sério até demais, nem se abalou, continuou aquele serviço até terminar”, prosseguiu.
E a mulher continuou a contar a história: “Ele tomou banho na bica d’água, perto de um monjolo, e quando fui falar com ele, o homem fechou a cara, pegou uma espingarda e eu fui para dentro de casa. Ficamos calados por diversos dias, nunca disse uma única palavra sobre o ocorrido, ele também não, e lidamos com aquela situação como se nada tivesse acontecido. Sempre que ele me procurava, de noite, não tinha como não perceber o cheiro da égua.”
A mulher disse que aceitou aquela situação por medo e também porque no fundo o marido exercia bem o papel de ‘homem macho comigo’. Parece que a égua é que fazia o seu sangue pulsar para se tornar um verdadeiro alasão entre quatro paredes.”
Perguntada sobre como conseguiu manter esse segredo por tanto tempo, a senhora disse apenas que havia contado a uma cunhada, que era a sua melhor amiga, e esta a aconselhou com estas palavras: “Ele não está dando conta do recado na cama? Isso está te atrapalhando? Você não está vivendo bem, no conforto, sem lhe faltar nada? Então, minha cunhada, finja-se de cega, surda e muda. Vai fazer o quê? Aproveita e se diverte também.”
E assim foi feito.
Um dia a égua “Roxinha” morreu de velha. Ela disse que ficou aliviada. Mas de nada adiantou. O marido, dias depois, comprou uma outra égua. E de que cor? Roxa. Roxa igual a outra.
E a sua vida continuou assim, segundo contou, até a morte do marido.
“Hoje percebo que era o amor por esta égua Roxinha, depois substituída por outra, era essa paixão que manteve aceso o nosso fogo na cama e fez com que o nosso casamento durasse tanto, até a morte, conforme juramos perante o padre e o juiz.”
E assim termina a crônica de hoje.
CORINO ALVARENGA